Drauzio Varella sobre estupro na USP: ‘Esses meninos cresceram com a sensação da impunidade’

“Esses meninos cresceram com a sensação de impunidade”. Ao saber que o estudante Daniel Tarciso da Silva Cardoso vai se formar em medicina na USP mesmo após suspensão por dopar e estuprar três alunas da faculdade, o médico Drauzio Varella, ex-aluno da universidade, divulgou um desabafo

Ana Beatriz Rosa no HuffPost Brasil

Foto: TV Globo/Zé Paulo Cardeal

O estudante de medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Daniel Tarciso da Silva Cardoso vai se formar mesmo após cumprir suspensão por ser acusado de dopar e estuprar alunas da faculdade.

A notícia deixou muita gente inconformada, inclusive um ilustre ex-aluno da FMUSP, Drauzio Varella.

Em um vídeo compartilhado em seu Facebook na quarta-feira (2), Varella demonstrou indignação diante da atitude do jovem e da decisão da faculdade. Para ele, o caso é “exemplo” de vergonha e impunidade:

“Quando acontecem esses casos de estupro, todo mundo acha que a mulher tem uma parcela de culpa, principalmente se ela bebeu. Eu fico chocado com esse tipo de interpretação. Eu já bebi e muitas vezes eu passei do ponto, mas eu nunca fui estuprado. E eu não conheço nenhum homem que tenha sido nesse tipo de situação. Estupro é crime. Esse caso da Faculdade de Medicina é exemplar. Eu acho que essa situação é muito simples. Eu fico muito envergonhado disso acontecer na faculdade em que eu aprendi a ser médico. As pessoas ficam chocadas sabe por quê? Porque nós médicos temos acesso aos corpos dos pacientes. E as pessoas têm que ter confiança de que nós vamos respeitá-las, independentemente do fato de elas estarem bêbadas, drogadas ou anestesiadas. Isso não pode acontecer com médicos de forma nenhuma, especialmente com alunos que cursaram as melhores escolas do país. Esses meninos que fazem essas coisas têm a exata sensação da impunidade.”

Cardoso já cumpriu todos os créditos exigidos na graduação, mas estava suspenso desde 2014. Já que cumpriu sua suspensão, o aluno poderá colar grau.

Professoras e pesquisadoras da Rede Não Cala USP, movimento criado para amparar vítimas de violência sexual e denunciar casos de estupro e abuso sexual, divulgaram uma nota de repúdio à decisão de deixar Daniel colar grau.

“Temos plena convicção de que a USP não pode correr o risco de diplomar alguém que pode ser um agressor, ainda mais para o exercício de uma profissão destinada ao cuidado, como é o caso da Medicina.”

Em entrevista ao UOL, o advogado do estudante, Daniel Alberto Casagrande, diz que as acusações de estupro não são verdadeiras.

“Foram instaurados três procedimentos apuratórios na FMUSP e nenhum deles reconheceu a ocorrência de estupro”, afirmou Casagrande ao portal. “A suspensão das atividades acadêmicas se deu por outros fatos, não pelo estupro. Há um processo criminal em andamento que, por tramitar sob sigilo, não pode ser comentado.”

+ sobre o tema

Otan mata ao menos oito mulheres civis durante bombardeio no Afeganistão

Pelo menos oito mulheres morreram neste domingo em um...

Violência contra mulheres brasileiras transpõe fronteiras, diz ministra

A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres...

A relação entre o sexo como tabu e a violência sexual – Por Jarid Arraes

É muito interessante a forma como nossa sociedade lida...

para lembrar

spot_imgspot_img

Homem é preso em Manaus suspeito de matar grávida por não querer filho negro

A Polícia Civil do Amazonas prendeu em Manaus um homem apontado como sendo o assassino de sua ex-namorada grávida de sete meses. As investigações, segundo a corporação,...

Violência política contra as mulheres é estratégia de ataque à democracia, diz especialista

Neste 25 de novembro, Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, o Brasil se depara com um número alarmante. Segundo pesquisa elaborada...

Evitar sair à noite, compartilhar localização: maioria das mulheres adota medidas para driblar insegurança no Brasil, diz pesquisa

Oito em cada dez mulheres que vivem no Brasil adotam estratégias de segurança no cotidiano para se deslocarem em suas cidades, aponta uma nova pesquisa...
-+=