A dura vida dos “yellow blocs” na área VIP da Copa do Mundo

Seu Jorge na festa da Copa dos coxinhas

por : Kiko Nogueira do Diário do Centro do Mundo

No show de horrores da agora famosa festa VIP em que uma multidinha de coxinhas pagou até 1000 reais para ver o jogo da seleção com o México, um personagem chamava a atenção: o cantor Seu Jorge.

Que diabos Seu Jorge estava fazendo ali?

Tudo bem. Sua mulher, Mariana, estava lá. No vídeo, ela avisa de cara que veio “especialmente de Los Angeles, onde a gente mora, pra ver essa bagunça”. Depois reaparece com alguns patuás falando frases completamente sem sentido. Ok. Ele é um dos sócios. Ainda assim.

Volto a perguntar: que diabos seu Jorge estava fazendo ali, tocando para aquela turma barra pesada?

Antes de LA (pronuncie “Él Ei”), o casal morou com as filhas em São Paulo. Numa entrevista, ele contou que certa noite foi a um shopping ver “Ratatouille” e saiu no meio da sessão para fumar um cigarro. Na volta, duas senhoras o viram e chamaram o segurança, achando que se tratava de um assaltante.

Ele armou um quiproquó ameaçando denunciá-las por racismo. Desistiu quando a confusão cresceu. No Rio de Janeiro, cada passeio que dava em sua Lamborghini branca era um acontecimento. Saía nos jornais. “O que o negão está fazendo num carro desses? Quem ele pensa que é?” — era a pergunta impressa no rosto das testemunhas e embutida em cada entrelinha.

Ele não vive em negação. Pelo contrário. O homem que morou nas ruas de Santa Teresa nos anos 90 já falou sobre sua experiência traumática na Itália. “Não volto lá nunca mais. O italiano é racista. Eles têm sérios resquícios da colonização que sofreram: não aprenderam a lidar com outras etnias. Me maltrataram muito. Lá, percebi que, por ser negro, não era brasileiro, era da África, da Somália. No Brasil, isso também é forte ainda, viu?”

Você vai me dizer que é o trabalho dele e você não está errado. Que ele estava ali porque queria, ué. “Houve um tempo em que artistas diziam: me dê liberdade ou me dê a morte. Hoje eles dizem: me faça um escravo, apenas me pague o suficiente”, afirmou o escritor Todd Garlington. Em 1965, os Beatles foram ao palácio de Buckingham receber uma condecoração da rainha, a MBE. “Aceitar a medalha foi me vender”, Lennon afirmaria mais tarde. “Eu sempre odiei essas coisas sociais. Todos os eventos e apresentações. Todos falsos. Você podia enxergar por dentro daquelas pessoas. Eu as desprezava”.

Provavelmente, Seu Jorge não despreza aquelas pessoas, senão não estaria ali. Mas não seria exagero pensar que a maioria delas o desprezaria — ou chamaria o segurança — não fosse ele o cara famoso que estava lá para diverti-las cantando “Burguesinha”.

Veja também:

Fonte: Diário do Centro do Mundo

+ sobre o tema

Comunicado sobre a demissão do ministro Silvio Almeida

Nota à Imprensa Diante das graves denúncias contra o ministro...

Anielle confirma a ministros ter sido vítima de assédio de Silvio Almeida

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi ouvida...

Nota à imprensa – Denúncias de assédio no governo federal

O Ministério das Mulheres reafirma que a prática de...

para lembrar

Guerra às drogas na Maré

Discutir políticas públicas e a não proibição de drogas...

Em tratamento contra câncer, Lula raspa cabelo e barba

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que realiza...

Treine mais – Por Fernanda Pompeu

É fato. Existem tantas maneiras de aprender quanto...

Estão de má vontade com o Brasil

O Deutsche Bank, umas das maiores instituições financeiras...

Ministra Anielle Franco relatou assédio de Silvio Almeida a integrantes do governo Lula

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, relatou a integrantes do governo que havia sido assediada sexualmente pelo ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Procurada pela coluna...

Nota Pública – Me Too Brasil – Caso Silvio Almeida

A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio...

Entenda as responsabilidades dos municípios na educação pública

Há dois anos, Esteffane de Oliveira, 25 anos, moradora da Cidade de Deus, em Japarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, tenta conseguir...
-+=