Por: Mônica Francisco
Não é à toa que um grande atleta de alto rendimento desabafando, disse ser impossível ser negro neste país.
Terça-feira (12), dia anterior ao da publicação desta coluna, comemora-se O Dia Internacional da Juventude. Segundo a atualmente badalada enciclopédia colaborativa da internet, por resolução da Assembléia Geral da ONU em 1999, estabeleceu-se em resposta à recomendação da Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude, reunida em Lisboa, de 8 a 12 de Agosto de 1998.
Em decorrência da data, achei mais do que pertinente voltarmos a alguns assuntos que teimam em nos inquietar. Na última semana, recebi em minha linha do tempo do Facebook, um post feito há um ano, após um encontro, onde uma defensora dos direitos humanos e ativista social, moradora da favela do Cantagalo, chamava a atenção de autoridades presentes ao encontro sobre um grupo de jovens marcado para morrer.
Um ano depois, percebemos que há uma terrível marca sobre a juventude negra brasileira, e o peso de andar dia após dia com a sensação de ser o próximo.
Isso se traduz nas terríveis notícias que nos chegam todos os dias. Na última semana, Rhuan, morador do Alemão, dava depoimento sobre sua sorte de ter sobrevivido a um tiro nas costas.
Em Acari, as mortes se contabilizam. Somemos ainda, segundo Diego Santos, membro do Conselho Nacional de Juventude, a dificuldade de se ver materializado na prática cotidiana ações que de fato minimizem a tragédia, como por exemplo os nem-nem.
Diz ele que o Rio de Janeiro conta com o Programa Juventude Viva, da Secretaria Nacional de Juventude em 13 municípios.
O programa visa estimular o desenvolvimento em parceria com os municípios, de ações que previnam a violência contra a juventude, principalmente a juventude negra, alvo direto e predileto da violência e das condições mais precárias de inserção na sociedade.
A existência de 500 mil jovens que nem estudam e nem trabalham, citados por Diego, nos dão a certeza de que há uma verdadeira empreitada no sentido de alijar estes jovens da possibilidade de viver, e viver no sentido mais pleno dessa palavra.
Isso sim é uma das maiores tragédias da história deste país. Isso não é cinema, é real. Jovens mortos como moscas. Que jovem branco tem inconscientemente o medo de ser alvo de alguém que queira “descarregar” um pouquinho a sua arma?
Cerceados no direito de ter direito, perspectiva e com uma necessidade de constante limpeza moral, como o caso do sobrevivente do Alemão, o Rhuan, que tem de agregar ao seu depoimento a frase recorrente: “Não sou bandido, eu trabalho”, e ao lado, a prova indefectível, a carteira de trabalho.
Uma das grandes mudanças, dentre tantas que deveriam ou melhor devem se implantar neste país, é a retirada urgente das pautas jornalísticas a frase complementar, “não tinha passagens pela polícia ou antecedentes criminais”.
Isso produz de maneira subjetiva a errada sensação ou induz ao errado pensamento de que se pode ser vítima ou alvo de qualquer ato mais vil se a pessoa em questão não se enquadra nesta sentença.
É vergonhoso ver o mundo consentindo no extermínio de seres humanos pela guerra e pelos vírus letal. A mesma vergonha deveríamos sentir de assistir à execução de um plano macabro de extermínio de uma juventude, marcada por causa do seu endereço, da sua classe e principalmente por causa da sua cor.
O que precisamos é que se cumpra a lei que temos, que se respeite a humanidade, e que se repense seriamente em quem de fato colocaremos nos postos de poder em outubro.
“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.
Fonte: Jb