Almir Lima disputou o concurso Garoto da Favela do mês de junho no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro
Do iG
Um concurso de beleza no Complexo do Alemão terminou em um triste episódio de racismo. Incentivado por uma amiga, o estudante Almir Lima , de 17 anos, decidiu disputar o concurso Garoto da Favela do mês de junho, promovido pelo jornal Voz da Comunidade, que atua no Alemão. Poucos dias depois do início da votação, internautas escreveram comentários racistas nas fotos do rapaz, divulgadas no Facebook do concurso.
Ao todo, foram 134 postagens ofensivas na página. “Ele só está ganhando porque foi no zoológico e chamou um grupo de gorilas para votar nele”, publicou um usuário da rede. Almir contou que quando os amigos viram as postagens, se mobilizaram contra os comentários. “Tenho uma amiga que faz parte de diversos grupos contra o racismo. Ela viu os comentários e começou a divulgar nos grupos que participa o que aconteceu”, contou.
Com isso, a votação de Almir aumentou muito. Com oito mil curtidas em sua foto, ele acabou vencendo o concurso. O segundo colocado não chegou a alcançar dois mil votos. “Gostaria de perguntar a essas pessoas o que elas fariam se o Deus que elas crêem for negro?”, questiona o estudante do segundo ano do Ensino Médio, ressaltando que toparia seguir a carreira de modelo se surgirem oportunidades, mas que sonha mesmo em estudar Direito. “Esse desejo se tornou mais forte, depois desse acontecimento”, resumiu.
Nelsina de Lima da Silva, 43, mãe do rapaz, disse que não sabe se vai denunciar o caso ainda, mas ficou revoltada. “Passou de todos os limites. Somos todos iguais. Tem que dar um basta no racismo”, critica.
Frei David Santos, da ONG Educafro, defendeu a importância de registrar denúncias de casos como esse. “O grande problema do povo negro é ter vergonha de ser negro e de ser pobre. Quanto mais for registrado esse tipo de crime, mais pessoas começarão a pensar e debater o assunto. Isso redefine a vida”, afirma o frei.
Votos surpreendem o jovem
A quantidade de votos a favor de Almir foi tão alta, que algumas pessoas pediram verificação. A produção do concurso iniciou uma investigação e comprovou que todos os votos eram válidos. “Achei que podia ganhar, mas foi uma surpresa o número de curtidas”, disse o adolescente, ainda impressionado.
O crime de racismo é inafiançável. É determinada também a pena para quem, de modo discriminatório, recusa o acesso a estabelecimentos comerciais, impede que crianças se matriculem em escolas ou que cidadãos negros entrem em restaurantes.