Em capa histórica, jornal estampa o atraso do Brasil

Ao noticiar o linchamento de um jovem no Maranhão, “Extra” lembra a Justiça desigual e compara situação à da escravidão

Em sua edição desta quarta-feira 8, o jornal Extra, do Rio de Janeiro, fez uma dura crítica à sociedade brasileira, uma na qual vicejam justiçamentos com as próprias mãos, prática apoiada por grandes contingentes da população, inclusive da imprensa. Ao noticiar o linchamento de Cleidenilson da Silva, na periferia da capital do Maranhão, São Luís, o jornal fez uma comparação entre a situação atual do País e a vivida no período da escravidão.

“Os 200 anos entre as duas cenas acima servem de reflexão: evoluímos ou regredimos?”, questionou o Extra, que pertence Grupo Globo, ao exibir a imagem de um escravo sendo açoitado e a de Cleidenilson, que foi despido, amarrado a um poste e espancado com socos, chutes, pedradas e garrafadas após uma tentativa de assalto na segunda-feira 6, em São Cristóvão, bairro de São Luís.

“Se antes os escravos eram chamados à praça para verem com os próprios olhos o corretivo que poupava apenas os ‘homens de sangue azul, juízes, clero, oficiais e vereadores’, hoje avançamos para trás. Cleidenilson da Silva, de 29 anos, negro, jovem e favelado como a imensa maioria das vítimas de nossa violência, foi linchado após assaltar um bar em São Luís, no Maranhão. Se em 1815 a multidão assistia, impotente, à barbárie, em 2015 a maciça maioria aplaude a selvageria. Literalmente – como no subúrbio de São Luís – ou pela internet. Dos 1.817 comentários no Facebook do EXTRA, 71% apoiaram os feitores contemporâneos”, escreveu o jornal.

De acordo com o jornal carioca, Cleidenilson e um menor de 16 anos teriam tentado assaltar a mão armada um bar em São Cristóvão, mas foram surpreendidos pela reação dos clientes. Enquanto Cleidenilson foi linchado, o menor foi agredido, mas entregue às autoridades.

A Delegacia de Homicídios da capital maranhense, informa o Extra, identificou dois suspeitos pelo crime e investiga a participação de outras pessoas. Todos devem responder pelo crime de homicídio doloso (com intenção de matar) e qualificado, pois a vítima não teve condições de se defender. Segundo informou um delegado ao portal G1, “várias pessoas” que moram no bairro de São Cristóvão participaram do linchamento.

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