Emergência climática é emergência educacional

Devemos combinar reflexão, aprendizagem e ação a partir do chão da escola

Emergência climática é emergência educacional. Vivenciamos uma emergência climática sem precedentes. É o que mostra o relatório “Climate Change 2021: The Physical Science Basis”, lançado recentemente pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, que indica que a influência humana nas mudanças climáticas é responsável pelo aumento de 1,07°C da temperatura global. E, caso não consigamos reduzir as emissões de gases do efeito estufa, poderemos chegar a um aumento de 3,3°C a ​5,7°C no fim do século 21, o que trará consequências desastrosas para a humanidade, como secas e enchentes, aumento da pobreza, refugiados climáticos, redução da produtividade de alimentos, gerando aumento de preços, e risco de avanço nos vetores de doenças tropicais. Por óbvio, punindo de forma desproporcional os mais vulneráveis e aumentando as desigualdades.

Os dados reforçam o que já é sabido: não há tempo para negligenciar a questão ambiental. Precisamos aplicar as soluções já apontadas para seguirmos avançando em nosso desenvolvimento, com o menor impacto ambiental possível e contribuindo de forma efetiva para a regeneração da natureza. Isso passa por decisões políticas e econômicas, investimento em ciência e tecnologia e construção de ampla coalizão de atores para combater a emergência climática. Mas também pela educação, ferramenta essencial para que possamos transformar as relações da sociedade com a natureza e definir novos parâmetros de desenvolvimento.

A mobilização e o engajamento do campo da educação são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades e comportamentos ambientalmente responsáveis. A escola pode ir muito além do necessário aumento da conscientização. São vários os exemplos em que são desenvolvidos projetos articulados ao currículo, mas focados na transformação do presente, estimulando os jovens a assumirem protagonismo em ações que ajudam a mudar a realidade ao seu redor.

Vale lembrar que a educação ambiental já é prevista pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que coloca a consciência socioambiental e o consumo responsável entre as dez competências gerais da educação básica. A tarefa principal é definir currículos concretos em cada rede de ensino com abordagens disciplinares e transversais que tragam com vigor a agenda da educação ambiental.
A oportunidade que se abre é a de disseminar estratégias pedagógicas que produzam sentido e significado para os jovens a partir do reconhecimento e, sobretudo, do enfrentamento das emergências climáticas. Combinar reflexão, aprendizagem e ação a partir do chão da escola, projetando outro futuro —responsável, sustentável, ético e solidário.

No entanto, segundo a pesquisa “Reimagining – educação climática e liderança jovem”, elaborada pela Plan International com estudantes de 37 países, apenas 22% deles receberam informações sobre políticas relacionadas ao clima, e só 11% foram ensinados a participar dos processos de tomada de decisão. Com isso, a maioria não se sente informada ou capacitada para participar das decisões sobre políticas ambientais. Precisamos oferecer mais subsídios às escolas e professores para que abordem, além do impacto das mudanças climáticas em nossas vidas, as dimensões sociais, políticas e de direitos humanos relacionadas à crise.

O entendimento das questões ambientais e da relação entre os ecossistemas e os sistemas sociais são essenciais para que crianças, adolescentes e jovens tenham maior repertório reflexivo e instrumentos para lidar, de maneira efetiva, com esse que é um dos grandes desafios da humanidade.

Essa ação terá mais relevância, sobretudo, se tivermos um olhar informado pelo direito intergeracional, considerando que nossa geração e as anteriores entregam um planeta com menos possibilidades e mais restrições para as próximas.

Da alfabetização ambiental à educação para o desenvolvimento sustentável há um percurso escolar que solicita uma abordagem disciplinar e transversal capaz de aumentar a inserção criativa, crítica e transformadora dos estudantes em uma sociedade cada vez mais complexa.

+ sobre o tema

Google concorda em pagar US$ 28 milhões em processo por preconceito racial

O Google concordou em pagar US$ 28 milhões (cerca de R$...

Renda de pessoas negras equivale a 58% da de brancas, mostra estudo

A renda do trabalho principal de pessoas negras correspondia,...

Geledés – Instituto da Mulher Negra se solidariza à Ministra Marina Silva

Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização fundada e...

STF forma maioria para validar lei que expulsa empresa por escravidão em SP

O plenário do Supremo Tribunal Federal formou maioria, nesta...

para lembrar

Política de confinamento x direito à cidade – Por: Cidinha da Silva

Estava a pensar sobre as conexões entre a perseguição...

Barbosa nega entrar na política e diz que terá gestão sem ‘turbulências’

Por: GUSTAVO GANTOIS O ministro Joaquim Barbosa, eleito...

Mais de 100 mil protestam nos EUA contra lei anti-imigração do Arizona

Centenas de milhares de pessoas realizaram manifestações em mais...

03/09 – Embaixadas: Dilma vence em Paris e Roma; Serra em Londres

Embaixadas e consulados brasileiros divulgaram resultados extra-oficiais...

Alcântara é Quilombola! Em sentença histórica, Corte Interamericana condena Brasil por violar direitos quilombolas e determina titulação do território

Na última quinta-feira (13), a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) declarou que o Estado brasileiro é responsável por violar os direitos das...

União Africana classifica escravidão e regime colonial de genocídio

Líderes de países africanos deram um novo passo na crescente reivindicação por reparações históricas ao classificar a "escravidão, deportação e colonização de crimes contra a humanidade e genocídio contra os...

Quilombolas pedem maior participação em debates sobre a COP30

As comunidades afrodescendentes e quilombolas pedem mais espaço nos encontros sobre mudança do clima que antecedem a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as...
-+=