Encontro debate educação em Cuiabá

Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no ano 2000 e publicado em 2004, revelou que 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula. A pesquisa foi aplicada a 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras.

Marc Bruxelle via Getty Images

Diante desse cenário, a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá (SME), em parceria com o Grupo Afro-Descendente de Livre Orientação Sexual/Gradelos “Tereza de Benguela”, realiza hoje (21-08) e na quarta-feira (22/08), o “II° Seminário Sobre Educação e Homofobia: Por uma Prática Pedagógica sem Homofobia”.

Destinado aos educadores do município, o encontro discutirá as práticas educativas escolares sobre a diversidade de orientação sexual e a construção de uma educação livre da discriminação.

Na avaliação do diretor de Gestão Educacional da SME, Gilberto Fraga de Melo, a escola é um espaço, por excelência, diverso e, por isso, deve possibilitar aos educadores a leitura dessa diversidade. “É necessário que os professores tenham atitude frente às diferenças, sejam elas de cor, de religião, orientação sexual. Para isso, é necessário que ele supere, na prática, os próprios preconceitos”.

Segundo Melo, é necessário que os professores conheçam até mesmo a legislação, que prevê a igualdade de direitos. “No filme Filadélfia, há um momento em que o personagem do ator Denzel Washington, que é advogado, é questionado sobre a atitude de defender a causa de um homossexual e ele responde que a Constituição não diz que todos os heterossexuais são iguais perante a Lei e afirma que, indistintamente, todos devem ser tratados com igualdade. Acho que essa deve ser a premissa dentro do ambiente escolar”, exemplificou o diretor.

De acordo com o presidente do grupo Gradelos “Tereza de Benguela”, Leonardo Figueiredo, é importante que as ações de discriminação no ambiente escolar sejam registradas e discutidas, tanto pela escola como pelos gestores públicos. “É por meio dessas discussões que criamos mecanismos de combate à homofobia em suas diversas instâncias”.

O Ministério da Educação, de acordo com o coordenador-geral de Direitos Humanos do MEC, Fábio Meirelles Hardman, tem realizado diversas formações para educadores por meio de do programa “Gênero e Diversidade na Escola”, com o objetivo de orientar os professores da Educação Básica a lidar com situações que envolvam gênero, relações étnico-raciais e orientação sexual. “Já qualificamos cerca de 35 mil educadores. Além disso, também elaboramos e distribuímos material pedagógico relacionados ao tema, e já lançamos o edital para aquisição de livros que abordam direitos humanos e diversidade”.

Adair Neri da Cruz, 49 anos, é professora da escola municipal Juarez Sodré, no bairro Araés, e relata que o preconceito em relação à orientação sexual existe mesmo entre as crianças menores. “Ao se depararem com os colegas diferentes, alguns atribuem apelidos e xingamentos. Na escola, realizamos um trabalho de conscientização sobre o assunto, mas nem sempre é fácil, pois, às vezes, o preconceito é do próprio professor. O que esperamos dessas formações é que esse tema seja acessível na escola porque ainda há muito tabu”, observou.

O presidente da ONG Livre-Mente de Cuiabá, Clóvis Arantes, um dos palestrantes do evento, afirmou que, muitas vezes, a escola é omissa em relação aos casos de homofobia por desconhecer os prejuízos que esse tipo de atitude pode acarretar à pessoa discriminada. “A omissão é o pior tipo de comportamento que a escola pode ter. Muitas vezes, a direção e os próprios professores carregam esses valores e, assim, acabam reproduzindo isso no ambiente escolar”.

Para ele, os educadores devem se conscientizar que a homofobia e o bullyng estão presentes no cotidiano da escola e que a violência não pode ser naturalizada. “Sabemos também que existem profissionais que têm esse tipo de comportamento por falta de conhecimento. Por isso, a importância dessas formações”.

Também participaram da abertura do encontro o presidente do sindicato das Escolas Particulares de Mato Grosso (Sinepe), Gelson Mengatti Filho, o presidente do Sintep/Cuiabá, João Custódio da Silva, a presidente do Conselho Municipal de Educação de Cuiabá, Regina Lúcua Araújo, o coordenador geral do CORSA (Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade, Amor), a professora Vera Lúcia Bertolini, coordenadora do Grupo de Estudos em Direitos Humanos e Cidadania LGBT do NIECV/UFMT, a representante do Sintep/MT, Jocilene Barbosa e a gerente de Diversidades Educacionais da SEDUC/MT, Ângela Maria dos Santos.

O evento está sendo realizado na Escola Superior de Contas do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, em período integral, e conta com palestras como “A Construção de Gênero no Ambiente Escolar”, “Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT” e “Diversidade Sexual: O Desafio da Inclusão nas Escolas”.

 

 

Fonte: 24Horas News

+ sobre o tema

Como funciona o programa Pé-de-Meia e como sacar o primeiro pagamento

Estudantes que concluíram um dos três anos do ensino médio...

UFRB amplia para 40% a reserva de vagas para negros(as) em concursos para docentes

A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) dá...

Estudantes de licenciatura podem se cadastrar para concorrer a bolsas

Os novos alunos matriculados em cursos de licenciatura presenciais em 2025 que foram...

Começa convocação de estudantes em lista de espera do Sisu

Os candidatos selecionados pela lista de espera do Sistema...

para lembrar

Site reúne obras de filósofos africanos

O portal disponibiliza gratuitamente mais de 30 livros escritos...

Harvard, Stanford e outras universidades renomadas oferecem 8 cursos online e gratuitos

Já imaginou ter um diploma de Harvard, Stanford, Columbia...

Estudantes criam museu virtual com história de mulheres notáveis

Volte no tempo e recorde os tempos de ensino...

Inscrições no Enem 2024 são prorrogadas até 14 de junho

As inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)...
spot_imgspot_img

Chance de faculdade para jovem de classe média-alta é mais que triplo da registrada por pobre

A probabilidade de um jovem de classe média-alta cruzar a barreira do ensino médio e ingressar em uma universidade é mais que o triplo da registrada...

Como funciona o programa Pé-de-Meia e como sacar o primeiro pagamento

Estudantes que concluíram um dos três anos do ensino médio regular em escola pública em 2024 poderão sacar R$ 1 mil do programa Pé-de-Meia, do governo...

UFRB amplia para 40% a reserva de vagas para negros(as) em concursos para docentes

A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) dá um importante passo rumo à ampliação da  diversidade em seu quadro de servidores(as). A Procuradoria-Geral...
-+=