Encontro do PNUMA é marco de combate ao racismo ambiental

Enviado por / FontePor Katia Mello

Reunião promovida pelo órgão da ONU em Recife teve apoio de Geledés e da Coalizão Negra Por Direitos

O encontro promovido em Recife pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com apoio de Geledés – Instituto da Mulher Negra e a Coalizão Negra Por Direitos, no dia 4 de julho, foi um marco importante para o combate ao racismo ambiental, segundo avaliação da organização fundada e liderada por mulheres negras. A reunião teve a presença da subsecretária-geral da ONU e diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, e contou com a participação de organizações da sociedade civil como Caranguejo Tabaiares, GRIS Espaço Solidário, Coletivo Ibura Mais Cultura e representantes do Ministério das Relações Exteriores.

“Esse encontro com organizações do movimento negro, comunidades territoriais de coletivos e favelas é um marco fundamental em razão das agendas que temos buscado no combate ao racismo ambiental. Foi uma oportunidade da diretoria do PNUMA de ouvir tanto as experiências quanto as articulações que estão sendo feitas em âmbito nacional e internacional para que a população afrodescendente combata o racismo ambiental, inclusive para que seja uma também uma demanda do PNUMA interna no país”, afirmou Mariana Belmont, assessora de Clima e Racismo Ambiental de Geledés.

Devido às mudanças climáticas, o Brasil tem enfrentado eventos climáticos extremos, como as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, a severa seca na Amazônia em 2023, incêndios sem precedentes no Pantanal, entre outros eventos históricos em que os grupos mais vulneráveis são os mais afetados. Na COP26, por exemplo, o Movimento Negro Brasileiro defendeu políticas de combate às mudanças climáticas, desmatamento zero e proteção das terras quilombolas contra o racismo ambiental.

Foto: Tiago Carneiro/PNUMA


As recentes enchentes do Sul destacam a necessidade de aprimoramento do debate sobre este assunto. Áreas historicamente marginalizadas, como favelas e comunidades quilombolas e indígenas, encontram-se em maior risco de inundações e podem ter mais dificuldades para se recuperar.

Segundo pesquisa da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), o Rio Grande do Sul tem 145 quilombos espalhados por 70 municípios, sendo que todos afetados foram pelas enchentes. Aproximadamente 17.500 quilombolas sofrem os impactos da tragédia.

O último relatório do PNUMA “Estado de Direito Ambiental: Acompanhando o Progresso e Traçando Direções Futuras” afirma que movimentos globais como Black Lives Matter (BLM) têm destacado a justiça ambiental, abordando os impactos desiguais na saúde, sociais e econômicos sobre as comunidades marginalizadas. Nesse cenário, o estudo aponta que a justiça ambiental visa à proteção igualitária contra os perigos ambientais e ao acesso aos processos de tomada de decisão.

Diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen com Iya Sandrali – Foto: Tiago Carneiro/PNUMA


No Brasil, não poderia ser diferente. Aqui, “a diretora do PNUMA teve a oportunidade de conversar com o governo brasileiro e circular pelos territórios, conhecendo pessoas e entendendo que o Brasil é negro e forjado nessa barreira de racismo ambiental”, diz Belmont.

O papel internacional de Geledés na ONU foi destacado no encontro pelas representantes da organização. “Reforçamos o esforço que a organização vem fazendo nos fóruns das Nações Unidas, especialmente na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, conhecida como UNFCCC, para que a linguagem e os dados racializados sejam centrais nas discussões e para que, nas negociações internacionais, o Brasil e outros países entendam que a questão da população afrodescendente precisa estar nos debates como uma prioridade, uma vez que 56% da população brasileira é negra”, completou a assessora de Geledés.

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