Ensino da cultura afro-brasileira nas escolas iria salvar o Brasil do racismo

“Racismo no Brasil é bem escancarado e nítido”, destaca professora de história

Do Noticias ao Minuto

 Nesta sexta-feira (20), celebra-se em algumas cidades brasileiras o Dia da Consciência Negra. Uma data marcada para refletir e discutir sobre o preconceito racial que ainda está muito presente no cotidiano brasileiro.

A reportagem do R7 conversou com o secretário especial de políticas de promoção da igualdade racial da Presidência, Ronaldo Barros, que alerta que “o número de mortes de jovens negros no Brasil é maior do que em regiões em guerra”. Segundo ele, as mortes de jovens negros já chegam a 70 mil por ano no Brasil.

Reflexo de “um sistema de desigualdade racial”, como sugere Barros, o Brasil ainda tem muito para avançar nesse aspecto. “O racismo mata. O preconceito racial é algo que já é concebido e estigmatizado. Ele está na construção mental do brasileiro. As pessoas operam o racismo antes de qualquer reflexão”, alerta.

Barros destaca que “o pensamento racista é irracional e funciona como uma compulsão. Isso faz com que, algumas pessoas, sempre associem o negro a coisas negativas e cria a vontade de que eles sejam excluídos da sociedade”, e isto é real no dia-a-dia.

Racismo é escancarado

O R7 também entrevistou Juliana Serzedello Lopes, professora de história. A docente alerta que o racismo no país “é escancarado”. Mas também é “envergonhado”, pois “quando vemos as estatísticas de não escolaridade, de uso de drogas, de prisão, todos esses índices ‘ruins’, a população mais afetada é dos negros”.

“Então temos um racismo que é bem escancarado, nítido”, pontua.

O secretário Barros concorda com o pensamento da historiadora e explica que, muitas vezes, “o racista pensa que não é racista e não acredita que ele pode ser defensável e, por isso, acaba reproduzindo a fala de que o racismo não existe no País”.

“Como ele não sofre o racismo, ele não sente o racismo. O problema é encoberto. Construções ideológicas tentam “maquiar” o racismo, mas ele é um mecanismo perverso de exclusão e violência”, explica o secretário.

A elite do País, segundo a historiadora, é racista e tem vergonha de dizer publicamente o que pensa, o que não quer dizer que é menos racista por isso. “A nossa elite é racista e não é de hoje. O que eu lamento é que, em vez de enfrentar o debate, os covardes publicam atrás de portas de banheiros”.

Ensino da cultura afro-brasileira nas escolas

De acordo com a professora, “falta de um combate direto” ao racismo no Brasil e, isso faz com que a situação continue se perpetuando. Juliana destaca que é preciso punir as pessoas que fazem declarações racistas. No entanto, é mais relevante ainda que a lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, seja colocada em prática para garantir uma resolução em longo prazo.

“Porque, aí sim, teríamos profissionais em todas as áreas que iam saber a importância do negro e do índio no Brasil”, ressalta a professora ao R7.

Barros concorda que as leis (como a citada pela professora e a lei de cotas) são fundamentais para que todos entendam como a cultura afro contribuiu para a nossa sociedade. Porém, ele garante que também é preciso uma mudança cultural.

“O Brasil precisa avançar no mundo privado. A lei assegura um estado de direito, mas é preciso uma nova compreensão. É preciso que as pessoas reflitam sobre as mazelas que o racismo causa”, finaliza.

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