Escritores africanos ganham respeito

Há mais de uma década, quando a jovem escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie lutava para publicar seu primeiro romance, “Purple Hibiscus”, um agente lhe disse que as coisas seriam mais fáceis “se ao menos você fosse indiana” – pois os escritores indianos estavam na moda. Outro sugeriu alterar a ambientação da Nigéria para os Estados Unidos. Adichie afirmou que essa postura refletia a timidez do mundo editorial quando se tratava de novos escritores e culturas desconhecidas, especialmente os africanos.

Hoje ela não receberia esse tipo de conselho. Escritores negros com raízes africanas, em sua maioria jovens cosmopolitas que escrevem em inglês, estão fazendo barulho no mundo dos livros. Estão em listas de best-sellers, colhem críticas de alto nível e ganham grandes prêmios, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Adichie, de 36 anos, autora de “Americanah”, que este ano venceu o National Book Critics Circle Award em ficção nos Estados Unidos, é membro proeminente de um grupo em expansão que inclui Dinaw Mengestu, Helen Oyeyemi e Taiye Selasi.

Após anos de instabilidade política e social, mudanças positivas em diversas nações africanas estão ajudando a expandir o número de escritores e leitores. Novas premiações também ajudaram, assim como as redes sociais, a internet e programas importantes de mestres de belas artes.

As histórias sendo contadas, mesmo algumas delas ambientadas na África, muitas vezes refletem as experiências dos escritores em outros lugares – e são pontuadas de referências e ambientes familiares ao público ocidental.

“Americanah”, de Adichie, narra as vidas de Ifemelu e seu amante, Obinze, cujas aventuras os levam da Nigéria para Estados Unidos e Inglaterra. Ifemelu escreve um blog popular sobre sua crescente consciência racial e encontra o amor em um americano. Na Nigéria, seus amigos usam a palavra “Americanah” para provocá-la sobre suas atitudes americanizadas.

Com todos os diferentes temas e tipos de escrita surgindo atualmente, o romancista Dinaw Mengestu disse enxergar um segmento. “Existe essa investigação do que acontece com a alma deslocada”, afirmou Mengestu, de 36 anos, autor de “All Our Names” e ganhador do prêmio “gênio” MacArthur, que nasceu na Etiópia mas deixou o país aos 2 anos e cresceu em Illinois.

O romancista Okey Ndibe, de 54 anos, declarou: “Meus reflexos são moldados principalmente pela vida na Nigéria, mas muitos aspectos de mim estão no modo americano”. Seu segundo romance, “Foreign Gods, Inc.”, trata de um nigeriano instruído em Nova York, vivendo como motorista de táxi. Ndibe, que chegou aos EUA em 1988, declarou que, vindo de um lugar onde ser negro era a norma, ele ficou fascinado pela experiência dos negros americanos. “A vida de meu protagonista na América é tão importante quanto sua vida na Nigéria, se não mais”, afirmou ele.

Alguns no mundo dos livros dizem que muitas editoras literárias prefeririam lançar obras de escritores da África do que de afro-americanos, pois no clima atual, os africanos são considerados mais atraentes.

“Nos EUA, em certos círculos, ser negro que não é afro-americano significa ser visto como ‘o bom negro’”, argumentou Adichie. “As pessoas dizem: ‘Você é africano, então você não tem raiva’”.

Dadas as novas raízes que plantaram, os escritores africanos afirmam ser muito mais do que uma tendência.

“Minha esperança é que todos nós nos tornemos parte do catálogo, não só aqui, mas internacionalmente”, disse Ishmael Beah, de 33 anos, que mora nos Estados Unidos. Sua autobiografia de 2007, “A Long Way Gone: Memoirs of a Boy Soldier”, sobre a guerra civil de Serra Leoa, foi um best-seller, e seu romance “Radiance of Tomorrow” foi lançado este ano.

“Todos nós temos muito a dizer”, continuou Beah, “e sabemos que precisamos falar por nós mesmos sobre a diversidade, as dificuldades, a beleza desse continente”.

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