Professoras em universidades públicas e pesquisadoras de temas ligados às escolas de samba, Juliana Barbosa e Angélica Ferrarez dizem que entrada das duas no júri do Estandarte de Ouro está conectada às discussões de gênero do mundo atual e faz ponte com o “carnaval preto” na Sapucaí.
Em samba e carnaval, sou teoria e prática’
Juliana Barbosa, pesquisadora, professora da UFPR e nova jurada
Como começa sua relação com o carnaval?
Eu nasci no Irajá, sou de uma família carioca que foi morar em Londrina quando eu tinha 8 meses. Minha mãe era do Cacique de Ramos, meu pai do Bafo da Onça, e meu avô tinha desde o primeiro disco do Martinho. Era uma casa de bambas que se transfere para o Sul. E eu respirava samba. Minha primeira balada foi assistir aos desfiles das escolas de madrugada.
E como essa paixão foi parar na academia?
Sou formada em relações públicas. Quando fui para a carreira acadêmica, uma pessoa me disse para fazer mestrado e doutorado sobre algo de que eu gostasse. Não me veio nada além na cabeça do que samba. Primeiro usei a semiótica para analisar o processo criativo dos desfiles. Depois fiz meu doutorado sobre Nelson Sargento, e os pós-doc sobre Martinho da Vila. Frequento a Sapucaí e rodas de samba: em samba e carnaval, sou teoria e prática.
E qual o significado de o júri ter agora duas mulheres negras acadêmicas?
É um reflexo desse momento, em que a questão racial e a de gênero estão na pauta. A gente vem reconquistando um protagonismo histórico, porque quando falamos do samba temos as tias baianas que foram protogonistas. Esses lugares que estamos ocupando é até uma reverência às nossas ancestrais.