Nove dos 13 embondeiros africanos mais velhos, com idades que rondam os dois mil anos, morreram na última década. A causa da morte ainda não é clara mas as pistas dos investigadores apontam para as alterações climáticas.mn
Por Andrea Cunha Freitas Do Publico
“A morte da maioria dos maiores e mais antigos embondeiros africanos nos últimos 12 anos é um acontecimento de uma magnitude sem precedentes”, escrevem os autores de um artigo publicado na revista científica Nature Plants. A equipa de investigadores conta em apenas três páginas a história da rápida e inesperada morte de nove dos 13 mais velhos e de cinco dos seis maiores embondeiros de África. Sem conclusões sobre as causas do estranho declínio, avançam com a suspeita de um fim associado às mudanças climáticas nesta região do planeta.
O embondeiro está nos livros, poesias, contos, provérbios, lendas e crenças no continente africano e fora dele. Dizem que parece estar virado ao contrário (com os seus fortes ramos a confundirem-se com uma raiz) e que é sagrado. Conta-se que serve de morada aos espíritos humanos e que a árvore simboliza a sabedoria, uma vez que nenhum homem consegue abraçá-la sozinho. A imagem de um postal de África cola-se à imponente silhueta de um embondeiro num por do Sol.
A equipa de investigadores que anuncia a morte dos maiores e mais antigos embondeiros de África investigou e datou mais de 60 árvores do Norte e do Sul de África durante o período de 2005 a 2017, durante o qual procuraram exemplares muito grandes e potencialmente antigos. A datação foi feita com radiocarbono e alguns dos segredos da estranha arquitectura das árvores que assegura a sua longevidade e tamanho são descritos no artigo. Mas, escrevem, “o facto mais inesperado e intrigante é que, desde 2005, nove dos 13 espécimes mais antigos de embondeiros africanos e cinco dos seis maiores indivíduos morreram ou pelo menos as suas partes maiores e/ou mais velhas entraram em colapso e morreram.”
As inesperadas mortes, acrescentam, “não foram causadas por uma epidemia e também houve um rápido aumento nas mortes aparentemente naturais de muitos outros embondeiros maduros”. “Suspeitamos que o desaparecimento de embondeiros monumentais possa estar associado, pelo menos em parte, a modificações significativas das condições climáticas que afectam particularmente o Sul de África. No entanto, mais investigações são necessárias para apoiar ou refutar essa suposição”, concluem.
Entre os vários casos detectados, a equipa destaca três histórias de três árvores: Panke, Platland e Chapman. Panke era um embondeiro considerado sagrado numa área remota de Matabelelândia Norte, no Zimbabwe. A descrição deste indivíduo inclui “um anel definido por três hastes fundidas em torno de uma falsa cavidade com uma entrada baixa” e ainda “três hastes adicionais”. Em 2010, os ramos começaram a quebrar-se e sucessivamente a colapsar e, depois, as hastes dividiram-se e tombaram uma após a outra ao longo de mais de um ano. “Recolhemos e datamos várias amostras de seus restos mortais”, dizem os investigadores no artigo, revelando que a amostra mais antiga revelou que se tratava de um exemplar com 2450 anos. Ou seja, Panke era o mais antigo embondeiro africano e morreu em 2011.
Platland, também conhecido como embondeiro de Sunland, ergueu-se na província do Limpopo, na África do Sul, e “foi provavelmente o embondeiro africano mais promovido e visitado”. O mais célebre, portanto. Uma notoriedade conseguida talvez pelo impressionante “volume total de madeira de 501 metros cúbicos”. No enorme tronco encontravam-se duas estruturas em forma de anel com duas cavidades falsas interconectadas. “A maior unidade separou-se quatro vezes em 2016 e 2017 e os seus cinco caules acabaram por tombar e morreram.”