Estudantes ocupam Reitoria da Ufrgs e pedem ampliação da política de cotas

Samir Oliveira

Cerca de dez estudantes ligados ao movimento Mudança iniciaram na manhã desta segunda-feira (14) a ocupação da Reitoria da Ufrgs. O ato faz parte de uma série de atividades articuladas em conjunto com o movimento negro no contexto das mobilizações que marcam o dia seguinte ao da abolição da escravatura no Brasil – data que celebra a sanção da Lei Áurea, no dia 13 de maio de 1888.

Os estudantes estão com uma pauta de reivindicações, das quais a principal é a desvinculação das cotas sociais e raciais. “Compreendemos que a motivação de ambas as políticas é diferente. Enquanto a reserva social tem como intuito a diminuição do abismo socioeconômico, a reserva racial visa uma reparação histórica com a população negra que foi escravizada até final do século XIX e no século XX foi vítima de diversas políticas de limitação a acesso a direitos fundamentais”, alega o movimento em uma nota divulgada à imprensa.

Os acadêmicos passarão a noite acampados na Reitoria e pretendem atrair outras forças do movimento estudantil para engrossar a manifestação.

Confira a íntegra do comunicado divulgado pelos estudantes.

Galera chegou mais um momento importante na construção da universidade que queremos, uma universidade popular. Para quem não sabe nos próximos meses será reavaliado o sistema de cotas na UFRGS.

Nós do Movimento Mudança estamos convictos dos passos necessários para aperfeiçoarmos o sistema e fazermos com que a UFRGS tenha cada vez mais a cara da diversidade!

Para contribuirmos com o debate realizamos as “Calouradas do Movimento Mudança” com mesas que discutissem e apontassem os nossos novos desafios para a política de Cotas na UFRGS.

Para nós as ações afirmativas na universidade são um instrumento na construção de uma sociedade mais igualitária, democrática e plural. Para nós as ações afirmativas contribuem para inclusive mudar a lógica da produção acadêmica, não só acrescentando para aqueles que a acessam, mas também enriquece culturalmente a produção que volta à sociedade.

Ao longo dos debates, estudos e reflexões em diversos momentos, seja nas atividades em discussão com os estudantes, seja nas reuniões do Fórum de Ações Afirmativas da UFRGS em relação aos pontos que de avanço do sistema chegamos ao um acúmulo que gostaríamos de apresentar para o conjunto da comunidade acadêmica da UFRGS.

Para nós o debate de reavaliação do sistema perpassa por discutirmos o acesso e a permanência:

Acesso

* Ampliação da reserva social para 25% – Acreditamos que as ações afirmativas como medidas temporárias devem ser ampliadas garantindo um maior êxito no tange a representatividade real das camadas populares na Universidade.

* Ampliação da reserva étnico racial para 25% – Defendemos a ampliação da reserva racial compreendendo a necessidade de reparação com a população negra que hoje está em nosso estado em torno de 30%.

*Desvinculação das cotas raciais e sociais – Compreendemos que a motivação de ambas as políticas são diferentes. Enquanto a reserva social tem como intuito a diminuição do abismo socioeconômico, a reserva racial visa uma reparação histórica com a população negra que foi escravizada até final do séc. XIX e no séc. XX foi vítima de diversas políticas de limitação a acesso a direitos fundamentais.

O que motiva as cotas raciais no Brasil é o reconhecimento do racismo pelo Estado Brasileiro.

*Reserva de vagas para pós-graduação – O acesso à pós-graduação é sem sombra de dúvida um dos maiores gargalos social para aqueles já acessaram o ensino superior. É necessário garantirmos a diversidade na produção acadêmica.

Permanência

Acreditamos que a permanência é um grande gargalo quando nos deparamos no processo de popularização da universidade. Acreditamos que as estruturas existentes não dão conta de acompanhar os estudantes cotistas. Assim defendemos:

• Criação de uma Política de Assistência Estudantil – Hoje em nossa universidade apensar de haver que diversos programas de assistência estudantil, eles não se encontram dentro de uma política de permanência que consiga ver a universidade com um todo. Tão pouco que consiga ver o estudante como agente.

Precisamos que a universidade crie uma política de assistência estudantil, para que assim consiga dar conta das demandas existentes do conjunto discente da universidade.

• Defendemos a transposição da comissão de acompanhamento dos cotistas em um Órgão Especial de Apoio (ao ex. do Parque Tecnológico) que congregue os movimentos sociais e a Universidade.

• Criação de uma Cota de Xerox – número x de cópias mensais para o conjunto dos estudantes da UFRGS. Sabemos que ao falarmos do acesso de estudantes de baixa renda temos que tratar também de suas condições de permanência, com certeza os gastos com Xerox são um peso considerável no orçamento.

• Garantia da validade das Bolsas de 12 meses – No verão também somos estudantes.

• Nova Casa do Estudante do Campus do Vale – A moradia é um dificultador devido ao alto custo de vida na capital.

Idealizamos essas diversas pautas por entender que é necessário que o Movimento Estudantil dê sua contribuição com o processo de reavaliação do sistema de acesso da universidade. Queremos a partir deste documento abrir discussão com o conjunto da comunidade acadêmica da UFRGS sobre o tema para avançarmos e construirmos cada vez uma UFRGS mais Popular!

 

Fonte: Sul 21

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