A situação das crianças negras em sala de aula é desvantajosa, constatou pesquisa empreendida pela UFS com futuros professores. Eles apresentaram atitudes e comportamentos diferenciados em função da etnia dos alunos. A formação inadequada desses profissionais, porém, acaba influenciando a maneira como se colocam em sala de aula.
Fonte: Plenário – A Notícia Agora –
O estudo chegou à conclusão através das análises do julgamento que os professores fizeram em cima de redação escrita por um aluno do ensino fundamental e de um questionário com perguntas sobre temas étnicos, como preconceito e racismo. Para alguns professores, na redação estava anexada uma foto de uma criança negra e para outros, a de uma branca.
Duzentos e oito componentes da antiga Escola Normal e do curso de Letras da UFS participaram do trabalho. Num universo de zero a dez, os membros da Escola Normal atribuíram notas superiores à redação da criança branca face à negra: 7,8 contra 7,4. Já os alunos da UFS conferiram nota 7,1 para a negra e 7 para a branca. Apesar da diferença pequena em números, foram nos critérios estabelecidos nos questionários que o preconceito se expressou acentuadamente.
As teorias que estudam o preconceito e o racismo vão dizer que há uma tendência a avaliar pessoas brancas usando características de competência e critérios internos, enquanto quando se avalia as crianças negras usam-se critérios superficiais ou externos, explica a professora Dalila Xavier, do Departamento de Psicologia.
Houve uma tendência dos futuros professores para avaliar que o texto da criança branca era mais criativo e que ela possuía a idade adequada para produzir aquele conhecimento. Enquanto para a avaliação da criança negra consideraram o esforço para a construção do texto e a caligrafia.
Pretendemos continuar a pesquisa investigando o porquê da diferença das avaliações, diz a estudante Carla Jesus de Carvalho, que também atuou na pesquisa. O que mais chamou atenção foi a questão das diferenças dos sujeitos. Na Escola Normal a maioria deles origina da classe média baixa e possui um nível educacional mais baixo, enquanto os sujeitos da UFS participam de classe econômica e nível educacional mais elevados, completa.
Formação deficiente
Apesar de os resultados, em geral, não demonstrarem uma discriminação das crianças, observou-se que os futuros professores têm uma formação inadequada acerca de questões étnicas e raciais, o que acaba influenciando o modo como eles se portam em sala de aula.
A pesquisadora Carla aponta a ausência de disciplinas a respeito de assuntos como preconceito e discriminação, e a escassez de material didático que demonstre o papel dos negros na história, como justificativas às atitudes dos estudantes da área pedagógica.
Segundo ela, os livros didáticos são muitas vezes mal formulados e os professores tendem a aplicá-los como verdade absoluta. Neles os negros são estereotipados e lembrados apenas por sua participação na história do Brasil, principalmente quando se fala em escravidão.
É justamente o comportamento do professor, ao assumir a figura de autoridade, que pode colaborar para a existência ou não do preconceito entre os alunos. Numa sala diversa, se o docente não tiver uma formação adequada para lidar com essas diferenças, pode levar consigo estereótipos e tratar as crianças de forma diferente. Mesmo que se apresente de forma sutil, elas percebem o preconceito e podem se sentir inferiores em relação às demais, lembra.
Velado ou declarado o preconceito impede a criança de criar as suas próprias estratégias de defesa e consequentemente mina sua identidade. A rejeição leva a uma sensibilidade emocional que as impede de se concentrar nas suas atividades, e isso pode ter repercussão no seu desempenho escolar, diz a professora Dalila.
Diógenes de Souza (estagiário) e Luiz Amaro
Matéria original: Estudo analisa comportamento de futuros professores em relação à etnia dos alunos