Exposição Gestos Indizíveis, de Adriano Machado, abre no Galpão Bela Maré inspirada nos Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros

27/09/25
Enviado para o Portal Geledés
Com curadoria de Ana Paula Lopes, a exposição marca a primeira individual do artista no Rio de Janeiro e se inspira no pensamento de Azoilda Loretto da Trindade

Foram meses de pesquisa entre Bahia, Pará e Rio de Janeiro, durante os quais o artista visual Adriano Machado construiu as obras da exposição Gestos Indizíveis, que abre no dia 27 de setembro, às 14h, no Galpão Bela Maré, no Rio de Janeiro. O conjunto reúne, em sua maioria, fotografias que exploram gestos cotidianos, materialidades e modos de ensinar e aprender transmitidos em família e comunidade.

A exposição se inspira nos Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros, sistematizados pela educadora e intelectual negra Azoilda Loretto da Trindade (1957–2015), referência fundamental na pedagogia afro-brasileira. Circularidade, corporeidade, musicalidade, ancestralidade, memória, ludicidade e axé são alguns desses princípios que atravessam o trabalho de Machado, conduzindo uma poética que fala de afeto, proteção, mistério e coletividade.

Para o artista, o encontro com as pessoas e seus cotidianos é sempre ponto de partida: “Na minha fotografia, é essencial que exista a presença da confiança. As pessoas fotografadas precisam compartilhar a narrativa comigo. Quase tudo na imagem vem delas, de suas casas, de suas memórias, para que possamos criar cenas perenes”, explica.

Com curadoria de Ana Paula Lopes, assistente de curadoria na Pinacoteca do Estado de São Paulo, a exposição foi selecionada como projeto vencedor do Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia – 17ª edição. 

Gestos Indizíveis surge do que Machado chama de territórios afroinventivos, espaços imaginários e poéticos que atravessam cotidiano, ancestralidade e modos de existir afro-brasileiros. Para construir essas obras, o artista desenvolveu um método de atenção aos saberes invisíveis, aprendendo com a capoeira angola, observando a oficina de solda do pai e acompanhando o trabalho diário de familiares que vendem e fabricam comida ou roupas. Esses gestos, muitas vezes sutis, se tornam material para fotografias e vídeos que exploram madeira, ferro, barro, água, fogo e outros elementos, transformando o cotidiano em narrativa estética e política.

A exposição é resultado de um intercâmbio entre projetos apoiados pela Funarte, sendo apresentada pelo Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, através do Galpão Bela Maré, um espaço voltado à difusão, produção, mobilização, formação e fruição das artes e das expressões culturais através de suas mais variadas manifestações, visando, sobretudo, articular a produção artística periférica com o circuito da arte contemporânea no Rio de Janeiro. Inaugurado em 2011, consolidou-se como um espaço de referência na cidade para o debate do papel político da arte, especialmente no contexto das periferias.

Para Anna Luisa Oliveira coordenadora do Galpão Bela Maré, receber a exposição no espaço que fica na Nova Holanda, uma das favelas do Conjunto da Maré, é uma reafirmação do compromisso institucional do Observatório de Favelas com a educação antirracista por meio da arte através da referência de uma professora tão importante para nossos tempos, que é Azó. Ela também destaca que o projeto concretiza o desejo de aproximações entre o pensamento artístico contemporâneo baseados no norte e nordeste, e celebra que através do apoio da Funarte esse intercâmbio foi possível. 

A abertura será marcada por uma programação especial que celebra memória, ancestralidade e educação antirracista. Às 13h, o Galpão da Maré recebe a 5ª edição do Caruru da Gratidão, homenagem ao legado da educadora Azoilda Loretto da Trindade, reunindo oficinas para crianças e adolescentes, partilha de alimentos e o tradicional caruru, símbolo de afeto e coletividade. Ao mesmo tempo, a equipe de educadoras do Caruru da Gratidão conduz a Oficina Valores Civilizatórios Afro-brasileiros, a partir das 14h, apresentando princípios como coletividade, ancestralidade e oralidade por meio de contação de histórias, músicas e brincadeiras, fortalecendo orgulho e pertencimento às raízes da ancestralidade.

Foto: Adriano Machado
Foto: Adriano Machado

A mostra segue aberta à visitação de 30 de setembro a 4 de novembro, de terça a sábado, das 10h às 18h.

Sobre o artista

Adriano Machado – Foto: Hugo Martins

Artista Visual. Natural de Feira de Santana, vive entre sua cidade natal e Alagoinhas-BA. Doutorando em Artes Visuais pela UFBA, desenvolve projetos artísticos em fotografia, vídeo e objetos que buscam discutir questões de identidade, território, memória, ficção e silêncio através de relações de confiança e políticas de vida. Suas obras apontam para a condição humana entre os espaços de convivência e os territórios afro-inventivos. Participou da Bienal de Dakar 2022 (Senegal) com Coletivo Intervalo; 31º Programa de Exposições CCSP (2021); Valongo Festival Internacional da Imagem (Santos/SP, 2019); Concerto para pássaros (Goethe Institut, Salvador, 2019); Panapaná “Vamos de mãos dadas” (João Pessoa, 2018). Recebeu o Prêmio Marc Ferrez 2024;indicado ao Prêmio PIPA 2021; Prêmio Estímulo no 4º SAPF (Britânia, 2024); Prêmio-aquisição no Circuito de Arte latino-americano (Porto Alegre, 2022); Indicado ao Prêmio PIPA 2021; Prêmio Salões de Artes Visuais da Bahia (2013) e menções especiais (2014 e 2011); Prêmio Funarte de Residências Artísticas (2019). Participou de residências artísticas em Chicago, Lisboa e Nova York.

Serviço

Exposição Gestos Indizíveis
Artista: Adriano Machado
Curadoria: Ana Paula Lopes
Abertura para o público: 27 de setembro de 2025, às 14h
Visitação: 30/09 a 04/11, de terça a sábado, das 10h às 18h
Endereço: Galpão Bela Maré, Rua Bitencourt Sampaio – Maré, Rio de Janeiro – RJ, 21044-075 Passarela 10 da Av Brasil – BRT Rubens Vaz.
Entrada gratuita                

Como Chegar: https://2013.travessias.org.br/como-chegar/  

Caruru da Gratidão
Data: 27/09, das 13h às 17h  Local: Galpão da Maré
Entrada gratuita

Oficina Valores Civilizatórios Afro-brasileiros
Data: 27/09, a partir das 14h
Local: Cinema da Maré
Público-alvo: Crianças da Escola EDI-Azoilda e público da Maré
Entrada gratuita

Este projeto foi fomentado pelo Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia – 17ª edição e pelo Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2023. 

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