Apesar da boa vontade dos professores, qualidade de iniciativas fica comprometida pela carência de profissionais que dominem o tema
Há dez anos, a Lei número 10.639 incluiu a obrigatoriedade de conteúdos referentes à cultura e história afro-brasileira no currículo da educação básica. Desde então, universidades e movimentos sociais têm se esforçado para suprir a falta de capacitação de professores na área e vencer a resistência de alguns educadores que ainda encaram com estranheza a proposta.
A legislação que alterou a Lei de Diretrizes e Bases não cria uma nova disciplina, mas explicita a necessidade de se trabalhar a temática, especialmente nas áreas de Educação Artística, Literatura e História. As escolas têm autonomia para incluir o assunto em outras disciplinas, mas, o obstáculo maior, segundo analistas, ainda é a escassez de subsídio para oferecer aos estudantes algo além do tradicional ensino sobre a escravidão no Brasil.
Segundo o professor de História Fabio Luciano Iachtechen, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), aparentemente, há muita boa vontade na aplicação da lei, mas, como a mudança veio antes de qualquer preparo dos docentes, muitas iniciativas carecem da consistência adequada. “A lei veio antes de qualquer formação ou mesmo da disponibilidade de materiais didáticos, então, as tentativas vêm sendo feitas de uma forma um pouco atropelada”, diz.
Para Iachtechen, nota-se uma clara preocupação em responder à demanda por parte dos agentes envolvidos, mas especialmente no que diz respeito à história da África, há escassez de professores que dominem o tema com segurança. Mesmo a UFPR só abriu concurso em 2012 para a contratação de professores universitários com formação específica no tema. “Quem vai trabalhar esse conteúdo acaba tendo de ser autodidata”, lamenta o professor.
Resistência
Já o professor Paulo Vinicius Baptista da Silva, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPR, considera que as resistências existentes à obrigatoriedade se devem mais a um apego ao modo como a história e a própria cultura nacional eram ensinadas décadas atrás, quando não era dado tanto destaque à herança étnica dos afrodescendentes. “Uma mudança na política curricular como essa não se muda com facilidade porque mexe numa tradição bastante arraigada.”
Ainda assim, Silva cita alguns avanços notáveis. Em 2010, ele trabalhou na articulação de projetos relacionados ao tema no Sul do Brasil. Na época, as escolas do Paraná teriam se destacado com uma quantidade de iniciativas sobre o tema superior às de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele cita como exemplo o trabalho desenvolvido por professores no município de Pitanga, onde a população negra é menor do que a média do estado. “Ficamos surpresos ao visitar três escolas em que as gestoras dos projetos na área eram de origem ucraniana”, conta.
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Fonte: Gazeta do Povo