Minha crônica de Natal: Felicidade é – Por: Fernanda Pompeu

Dez letras que, em português, formam a maior aspiração do seres vivos. Creio que ninguém duvida que cachorros e bromélias saibam o que é felicidade. Eles abanam o rabo e dão saltinhos. Elas ficam mais viçosas e vistosas.

 

Entre nós, bichos humanos, a manifestação de felicidade é mais variada e sutil. Nem todo sorriso na cara é felicidade. Nem sempre um semblante sério quer dizer a falta dela. Esse sentimento pleno e avassalador é vizinho de útero da intimidade.

Cada um constrói a sua régua de felicidade. Tem gente que a experimenta ao encher sacolas em um shopping. Outros a conhecem quando o corpo é festejado pela quentura do sexo ou pela água gelada de uma cachoeira.

Há também uma minoria que se sente feliz ao ouvir disparar o despertador na segunda-feira. São os que se deprimem nos domingos. Dia de missa, de roupas coloridas, de sambão, de cantos de pássaros, de praia, de ausência de compromissos.

No fundo, não há um cardápio oferecendo itens de felicidade. Ao menos não para o gosto de todos. O que existe é que quem a experimenta, quer sentir de novo e novamente. Daí, imagino que ser feliz é algo que construímos. E que também podemos destruir.

Observe que tem gente que faz da própria vida um inferno. Gente que comete cem vezes o mesmo erro. Que identifica os estorvos, mas não consegue tirá-los do caminho. Pode escrever: quanto mais resistente a mudanças, mais longe de ser feliz.

Felicidade é sentimento móvel. Em trânsito. O que foi prazer ontem, poder ser tédio hoje. O que soa insosso agora pode deleitar amanhã. Por conta dessa mobilidade, nos descasamos e casamos. Pedimos demissão, pleiteamos emprego. Por ela, trocamos o dia de sol pela noite de chuva.

Irremediavelmente estamos buscando-a. Mesmo a mais infeliz das pessoas tem esperança de encontrar sentidos para ser feliz. Acho que a tal felicidade está dentro de nós, da mesma maneira que o coração, o fígado e os pulmões. Nascemos para ela.

Repensar a felicidade foi a última lição que aprendi com o meu pai. Uma das centenas que ele me ensinou. Faz dois meses, perto de morrer, ele se recusou a tomar água e a ingerir os gelatinosos alimentos.

Só uma coisa o fazia muito feliz. Chupar um picolé. Era o tesouro que ele curtia. Então seus olhos apagadinhos se enchiam de brilho. E eu via no seu rosto, minutos de alegria. Veja bem, um picolé de dois reais e vinte centavos.

Fonte: Yahoo

 

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