Festança em Vila Bela

 

Mato Grosso tem grande e antiga dívida moral com a comunidade negra de Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital do Estado e que foi a principal sentinela militar e promoveu a ocupação civil na região central do continente sob domínio da Coroa Portuguesa.

Em 1752, sob o tacão dos portugueses colonizadores e de seus filhos nascidos brasileiros, a raça negra construiu Vila Bela à margem do rio Guaporé. Até 1835, enquanto foi sede do poder a cidade fervilhava. Com a transferência do governo para Cuiabá houve esvaziamento populacional.

Sem a presença dos governantes, magistrados, legisladores e do círculo do poder, Vila Bela ficou praticamente restrita aos negros e alguns donos de escravos que eram proprietários na região. Isolada do restante do Brasil a cidade encontrou força em sua gente para vencer mesmo enfrentando carência de educação, falta de médicos e segurança.

Vila Bela venceu o desafio do tempo e constituiu uma população da qual o Brasil deve se orgulhar. Ao invés de se entregar ao derrotismo o vila-belense buscou, na fé herdada dos sacerdotes católicos e dos ritos africanos transmitidos de geração para geração desde a chegada dos primeiros escravos procedentes da África, a força de que precisava para sobreviver e vencer. Assim, juntando a crença plural com os ritmos tribais, criou-se uma grande festa, que de tão grande ganhou o nome de Festança, evento que é um dos marcos do calendário turístico mato-grossense e que se realiza neste mês de julho.

A Festança, também chamada Festa do Congo, é a comemoração religiosa em homenagem ao Divino Espírito Santo, Glorioso São Benedito e à Santíssima Trindade. Este evento tem início amanhã e se estende ao começo da próxima semana reunindo milhares de moradores da cidade, zona rural e da vizinha Bolívia.

Na Festança Vila Bela responde com fé, dança e musicalidade ao sofrimento de seu povo no ontem. Além dessa resposta, a cidade negra mostra ao mundo a força de seus homens e a sensualidade de suas mulheres que se enfeitam para a Dança do Chorado promovendo um bailado de rara beleza em praça pública ao som de cantoria.

Visitar Vila Bela no período da Festança é se deparar com um povo livre, feliz, altivo e sem mágoas do passado. É presenciar uma das mais bonitas manifestações culturais mato-grossenses. É se sentir numa terra de paz onde o convívio multirracional é harmônico e a miscigenação acontece nas asas do amor.

Vila Bela é mais que a Festança. É uma cidade surpreendente e cheia de mistérios, onde mulheres negras produzem um aperitivo de sabor forte e adocicado, com boa dose de teor alcoólico, que é apontado como poderoso afrodisíaco. Essa bebida artesanal é o Canjinjin.

Quem visitar Vila Bela nesta época encontrará um hiato de paz neste mês de férias escolares, de Festança e época em que o amazônico rio Guaporé, com seus botos, abusa do direito de ser bonito e passa ficando ao som dos agogôs e atabaques que ecoam pela cidade negra.

Na Festança Vila Bela responde com fé, dança e musicalidade ao sofrimento de seu povo no ontem

 

Fonte: Diário de Cuiabá

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