A Filha da Amazônia balança política nacional brasileira

Filha da Amazônia balança política nacional brasileira

 

Para Marina Silva, a vida começou no coração da Amazônia. Dos 11 anos em diante, ela caminhou 15 quilômetros por dia para ajudar seu pai a extrair borracha das árvores. Atualmente, como ícone do movimento ambientalista, ela dedica sua vida a proteger aquela mesma floresta tropical.

 

Analfabeta e gravemente doente com hepatite, Marina deixou sua casa aos 16 anos e seguiu de ônibus até a cidade de Rio Branco em busca de atendimento médico e educação. Lá ela aprendeu a ler e escrever, se formou na faculdade e se tornou professora e política.

 

Ela trabalhou lado a lado com seu amigo seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes antes dele ser assassinado, em 1988, por rancheiros que se opunham a seu ativismo.

 

Quando Luiz Inácio Lula da Silva goi eleito presidente do Brasil em 2002, ele escolheu Marina para ser sua Ministra do Meio-Ambiente e, sob seus cuidados, o Brasil criou um plano nacional de combate ao desmatamento e uma reserva indígena quase do tamanho do Texas.

 

Na última semana, no entanto, Marina balançou a política brasileira ao anunciar que, depois de quase três décadas, ela estava deixando o Partido dos Trabalhadores de Lula para se unir ao Partido Verde onde é provável que se candidate à eleição presidencial do próximo ano.

 

Sua história – a de uma mulher humilde que superou pobreza extrema e doença para se tornar uma força na política brasileira – pode se mostrar uma inspiração aos brasileiros em sua procura por um presidente que substitua o popular Lula, ele próprio produto de início humilde, afirmam os analistas políticos.

 

“Marina é uma pessoa que conquistou suas próprias asas e não é surpreendente descobrir que aqueles que têm asas podem voar”, disse Jorge Viana, ex-governador do Acre, Estado natal de Marina.

 

Sua candidatura a colocaria contra Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil e escolha do presidente Lula para sua sucessão. Analistas políticos dizem que as duas mulheres têm desavenças desde 2003 a respeito da política de desenvolvimento econômico do país, inclusive as projeções energéticas que Marina questionou por motivos ambientais.

 

Marina “sacudiu a disputa e embaralhou todas as cartas”, disse David Fleischer, professor de ciência política da Universidade de Brasília.

Se qualquer uma das duas vencer, história será feita. O Brasil nunca teve uma mulher como presidente. Além disso, o país nunca teve um presidente negro, e Marina é negra.

 

Marina abandonou o cargo de ministra do Meio-Ambiente no ano passado, depois de expressar preocupações sobre o governo poder ceder a pressões de interesses empresariais para aliviar as medidas de emergência que ela pôs em prática para combater o avanço no desmatamento da Amazônia. Ela voltou ao Senado nacional, onde continuou pressionando para dar andamento a sua agenda ambiental.

 

Em uma entrevista à imprensa brasileira, Marina, 51 anos, disse ter ficado cada vez mais frustrada com as disputas internas para persuadir membros do Partido dos Trabalhadores para que priorizassem uma estratégia de desenvolvimento econômico mais sustentável.

 

“Com a oportunidade de tentar construir este novo futuro para o Brasil e para o planeta, eu prefiro pôr minhas esperanças neste movimento”, ela disse a respeito de sua mudança para o Partido Verde.

 

Enquanto muitos a admiram, alguns analistas políticos dizem acreditar que os graves problemas de saúde de Marina podem se tornar uma preocupação política em uma disputa presidencial. Hepatite, malária e contaminação por metais pesados fizeram com que ela fosse hospitalizada por longos períodos.

 

Preocupações sobre a quimioterapia de Dilma para tratar um melanoma prejudicaram sua candidatura nos últimos meses, chegando a fazer com que alguns partidários de Lula pedissem que o presidente apoie um sucessor diferente. Os Brasileiros ainda se lembram do caso de Tancredo Neves, um presidente-eleito pelo povo que ficou gravemente doente em 1985 e morreu antes de assumir o cargo.

 

Ainda assim, Marina Silva passou sua vida provando o contrário aos que duvidaram dela.

 

Biografia


Nascida em Seringal Bagaço, uma pequena comunidade de seringueiros no Acre, Marina era uma de 11 crianças, três das quais morreram ainda jovens.

 

Os vizinhos mais próximos da família viviam a cerca de uma hora a pé pela densa floresta. Chegar a Rio Branco, a cerca de 70 km de distância, às vezes levava uma semana durante a estação chuvosa, quando o carro da família ficava atolado na estrada barrenta, ela conta.

 

Doença era algo comum na Amazônia e abalou sua família. Sua mãe morreu quando Marina tinha 11 anos. Duas irmãs mais novas morreram depois com sarampo e malária. Aos 11, ela começou a trabalhar com seu pai como seringueira. Eles normalmente deixavam a casa por volta das 5h e voltavam cerca de 12 horas depois. Para aumentar a produtividade familiar, seu pai cuidava de uma área da floresta e ela e suas irmãs de outra.

 

Para evitar que ela fosse roubada ou enganada por compradores de borracha, seu pai a ensinou simples contas matemáticas muito cedo, ela contou.

 

Depois que Marina ficou doente com hepatite, ela decidiu ir para Rio Branco em busca de tratamento. Ela queria se tornar freira e estudar.

 

Assim, Marina se matriculou em um curso para adultos analfabetos, trabalhou como empregada doméstica e logo concluiu a escola primária. Durante as férias, ela voltava à casa de seu pai e o ajudava a extrair borracha.

 

Ela abandonou a ideia de se tornar freira e entrou para a faculdade, se formando aos 26 anos em História.

 

Na universidade, ela se uniu ao Partido Comunista Revolucionário, um grupo clandestino para se opor à ditadura militar brasileira.

 

Durante aquele período, ela conheceu Chico Mendes, um seringueiro que organizava os trabalhadores para adverti-los sobre os perigos de se queimar e limpar a floresta e sobre o deslocamento de comunidades Amazônicas tradicionais.

 

Marina se uniu ao movimento de Chico Mendes, que envolvia manifestações pacíficas, e ele a conduziu à política. Depois de ser eleita vereadora municipal de Rio Branco, ela seguiu adiante para se tornar deputada estadual e senadora.

 

Com sua forte defesa da Amazônia, Marina “claramente é a candidata ideal do movimento ambientalista brasileiro”, disse Steve Schwartzman, diretor de política para a floresta tropical do Fundo de Defesa Ambiental em Washington e amigo de longa data da política.

 

“Marina fez parte do movimento que fez da Amazônia e do desmatamento e da possibilidade de um modelo de desenvolvimento diferente de certo modo um assunto nacional no Brasil, como nunca havia sido”, ele disse.

 

A postura dela que diz que o desflorestamento por indústrias brasileiras pode estar afetando a mudança de clima global foi aclamada por grupos ambientalistas de todo o mundo. Embora a prática continue, sua taxa foi reduzida significativamente de 2004 a 2007.

 

Mas em maio de 2008 Marina abandonou o cargo, culpando a “estagnação” dentro do governo a respeito de sua política ambiental. Ela havia ficado cada vez mais isolada no governo Lula por causa de suas críticas a algumas propostas de represas hidrelétricas e colheitas geneticamente modificadas.

 

Ainda assim, a maioria das políticas que ela pôs em prática continuou, disseram os ecologistas.

 

Ela creditou Lula, a quem considera um “herói vivo” juntamente com Nelson Mandela e Barack Obama, pelo progresso da proteção do meio-ambiente no Brasil. Mas ela também disse que o governo tem que preservar os avanços que foram feitos.

 

“Eu fui afortunada em conquistar algumas coisas, mas elas foram poucas perto do que o Brasil e o mundo precisam que nós façamos”, ela disse.

 

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