No Quênia a homossexualidade pode ser punida com até 14 anos de prisão. Batizado de “Rafiki”, o filme foi banido do país por conta disso.
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O filme “Rafiki” – que significa “amigo(a)” em swahili – entrou para a história como o primeiro representante do Quênia no Festival de Cannes, o que já seria um grande feito por si só. Mas o longa dirigido por Wanuri Kahiu representa muito mais do que isso, já que ousa falar sobre lésbicas num país onde a homossexualidade é contra a lei.
No Quênia o filme foi proibido de ser veiculado. O comitê que baniu a distribuição do longa chegou a dizer que ele poderia ter sido aceito, caso as personagens demonstrassem remorso por seus atos no final. “A moral da história no filme é a de legitimar o lesbianismo no Quênia. Qualquer tentativa de introduzir e de normalizar a homossexualidade no Quênia vai contra a legislação e a constituição e isso deve ser vetado”, declarou o comitê.
Naquele país, quem é pego tendo relações sexuais com pessoas do mesmo sexo pode ser preso por até 14 anos. Para se ter uma ideia, em 2016, o Tribunal Superior de lá defendeu que é totalmente aceitável realizar exames anais em homens para identificar se eles transam com outros homens. Em 2017, um oficial do governo queniano virou notícia no mundo inteiro por conta de uma declaração não apenas homofóbica, mas também muito ignorante. Frente à repercussão sobre dois leões que agiam como casal em um zoo do país, Ezekiel Mutua disse que obviamente aqueles animais estavam imitando as ações de humanos que visitam o parque, ou que estavam possuídos por forças malignas.
E o Quênia está longe de ser o único país africano que ainda criminaliza a homossexualidade, como mostra o mapa abaixo, publicado pela Deutsche Welle. Somália, Sudão, Mauritânia e Nigéria ainda preveem pena de morte para quem se relaciona com pessoas do mesmo sexo.
Voltando ao filme, “Rafiki” representa um marco histórico para a comunidade LGBT na África e é o longa com mais peso político no Festival de Cannes esse ano. Realizar um filme homossexual em países como o Quênia é um ato que leva a palavra “resistência” a um outro patamar. Fazer com que ele chegue a uma das premiações mais importantes do mundo é uma conquista histórica.
O filme fez sua estreia no festival nessa quarta-feira (9) e vem colhendo bons frutos junto à crítica. Ele conta a história de Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva), duas garotas que se conhecem pelas ruas de Nairobi e vivem um romance proibido. Além de escancarar a realidade homofóbica do país, “Rafiki” também mostra a dificuldade das duas em relação às famílias e a influência que a igreja exerce sobre a comunidade em que vivem.
Segundo a crítica do Screen Daily, o filme peca por querer retratar coisas demais, mas apresenta um trabalho carregado de alma e sensibilidade. O longa também é descrito como dinâmico e cheio de vida. “A performance carismática de Samantha Mugatsia e Sheila Munyiva faz você acreditar nas personagens e se envolver no romance. Quando a realidade se intromete no sonho de amor delas, o impacto emocional é incrivelmente profundo”, aponta o crítico.
Infelizmente, ainda é cedo para saber se a gente vai poder ver “Rafiki” nas salas de cinema daqui. No IMDb – a maior base de dados sobre audiovisual do mundo – não há nem informações sobre a estreia do filme nos Estados Unidos, quanto menos do Brasil. Mesmo assim, é justo dizer que a repercussão em Cannes já colocou o longa no radar das distribuidoras. Se for premiado, aumentam as chances de ele ser lançado comercialmente em breve. E nós já estamos torcendo, lógico! Saiba mais: Presidido por Cate Blanchett, Cannes terá júri majoritariamente feminino
Enquanto isso, olha como as atrizes e a diretora estavam maravilhosas no tapete vermelho do festival. O sorriso no rosto de quem sabe que está fazendo história!
(Pascal Le Segretain/Getty Images)
(Emma McIntyre/Getty Images)
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(Emma McIntyre/Getty Images)
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