O pedido de desculpas oficiais pela escravidão no Brasil, feito pelo ministro secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e manifestações do ex-presidente Lula sobre rebeliões populares no Norte da África constituíram pontos altos do início dos trabalhos (ontem) em Dacar (Senegal) do 11º Fórum Social Mundial (FSM).
O gesto do ministro reforça o primeiro pedido de desculpas oficiais que o então presidente Lula dirigiu ao países africanos, há cinco anos, como vocês todos se lembram. “Para nosso orgulho, hoje os afrodescendentes já são maioria da nossa população. Eu venho, como já disse o presidente Lula, pedir perdão; perdão aos irmãos africanos por esse processo de escravidão”, repetiu Gilberto Carvalho.
A realidade africana (de pobreza e ditaduras na maioria dos países) e a democracia no mundo árabe são os dois pontos mais na berlinda no Fórum deste ano, que se encerra dentro de uma semana – vai até o dia 16. Daí a excelente – e coerente com nossa história recente – participação brasileira na abertura dos debates.
Firmeza de Lula na abordagem das questões cruciais
Uma das personalidades mais requisitadas dentre as que acompanham o Fórum, o ex-presidente Lula discursou com firmeza em Dacar. Em sua participação, uma das mais esperadas do início dos trabalhos ontem (a abertura oficial foi no domingo), o ex-chefe de governo e do Estado brasileiro destacou estar agora em um processo de “desencarnar” do papel de presidente – deixou o posto há 38 dias.
Depois criticou duramente a insensibilidade dos países ricos diante da fome de milhões de pessoas no mundo. “Não pensem que lá tem sensibilidade para a questão da fome e para os problemas dos pobres no mundo. Só fomos chamados para as reuniões dos países ricos quando eles entraram em crise e precisavam de nosso apoio”, fulminou Lula.
Ele lembrou o escandaloso socorro prestado aos bancos pelos países ricos desde o início da crise econômico-financeira global e comparou: “(os) recursos necessários para a superação da fome e da miséria no mundo não são pequenos, mas são muito menores do que o total utilizado para resgatar bancos e instituições financeiras falidas na recente crise financeira internacional”.
Novos ventos no continente africano
Já sobre a conjuntura internacional, o ex-presidente analisou a crise política da Tunísia e do Egito acentuando que “os ventos que sacodem o Norte da África mostram como sociedades até há pouco sem esperança e sem futuro, onde imperavam a pobreza e a exclusão social, alimentaram grandes movimentos de transformação social e política”.
O dirigente brasileiro prestou assim, mais uma vez, seu apoio e solidariedade à luta dos movimentos populares que levaram à deposição, após 23 anos no poder, do presidente da Tunísia, Zine Al-Abidine Ben Ali e às manifestações pró-derrubada da ditadura de 30 anos de Hosni Mubarak no Egito.
Fonte: Correio do Brasil