Frequentadores eram barrados na porta por serem negros

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou, na última quarta-feira, três promoters da antiga boate Swingers Lounge, que funcionava na avenida Raja Gabaglia, no bairro Santa Lúcia, na região Centro-Sul da capital. O órgão concluiu que frequentadores foram barrados na entrada da casa noturna por discriminação e preconceito de raça e cor. Foram apurados sete casos, e em todos foi constatado o racismo.

Foto: Bruno Figueiredo

Por Danielle Torres Do O Tempo

De acordo com o MPMG, ainda não foram divulgados os nomes dos três denunciados. A norma prevê pena de reclusão de três a cinco anos a quem, por discriminação, impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares ou locais semelhantes abertos ao público.

A denúncia começou no dia 17 de abril de 2014, quando duas mulheres foram comemorar o aniversário de um amigo na Swingers e teriam sido impedidas de entrar. As duas eram as únicas negras do grupo. Segundo o órgão, casos como esse aconteceram por pelo menos mais seis vezes no mesmo local, somente em 2014.

Uma das vítimas foi a professora Tamires Giordana Moreira. “Nós pensamos que estamos em um país democrático, mas eles estão apenas olhando aparências. Não sei se foi racismo, mas é muita coincidência os negros não terem conseguido entrar”, afirmou.

Conduta. A justificativa da casa para barrar as pessoas na porta era a de que já tinha atingido o número máximo de clientes. Mas, conforme apurado pelo MPMG, em todos os setes casos, após os clientes negros serem barrados, pessoas de outras raças continuavam entrando na casa noturna.

De acordo com o promotor de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos de Belo Horizonte, Mário Konichi Higuchi Júnior, a conduta dos promoters da boate feriu o princípio da não-discriminação, “uma vez que imprimiu, a cada uma daquelas pessoas, tratamento diferenciado.” Para ele, embora exista um tabu de parte significativa da sociedade em reconhecer a existência de racismo no Brasil, não há como negar que houve discriminação racial na boate.

Na época, casa negou intolerância

Na ocasião, a Swingers informou que trabalhava com reservas de 70% da lotação da casa para sócios e 30% para não sócios e, em casos de fechamento de listas, como aniversários, todas as regras eram enviadas antes para o aniversariante, avisando da possibilidade de lotação. A boate negou a prática de racismo.

Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu contato com a antiga direção da casa noturna para comentar a denúncia do Ministério Público.

O que diz a lei

Condenação. O racismo no Brasil é crime inafiançável, previsto na Lei 7.716/1989 e que não prescreve. Quem cometeu o ato racista pode ser condenado mesmo anos depois do ocorrido.

+ sobre o tema

Ministério Público vai investigar atos de racismo em escola do DF

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a...

Ministério da Igualdade Racial lidera ações do governo brasileiro no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, está na 3a sessão do...

para lembrar

O apoio turco às vítimas do racismo na Alemanha

Depois dos atentados racistas contra a famíla Yigit, na...

Denúncias de racismo abalam Departamento de Bombeiros de NY

O Departamento de Bombeiros de Nova York (FDNY), uma...

Comissão diz que não houve ato ilícito da Justiça ao algemar advogada negra

Desembargador também inocentou a juíza que pediu a prisão...

‘Lá nunca mais volto’ – SEU JORGE sofre racismo na Itália – áudio

Entrevista concedida ao produtor Van Damme, da Beat98 Seu...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=