Gabriela Leite:”Prostituta é mulher e não tem doença só da cintura para baixo”

Gabriela Leite: Não aceitaremos financiamento do Ministério da Saúde enquanto for só para aids e nos vir apenas da cintura pra baixo

Conceição Lemes

No último domingo, 2 de junho, celebrou-se o Dia Internacional das Prostitutas. Daí a campanha “Sem vergonha de usar camisinha”, lançada nesse final de semana pelo Ministério da Saúde, depois vetada.

O dia comemora o 2 de junho de 1975 quando 150 prostitutas ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon, na França.

Elas protestavam contra contra a perseguição policial, cobrança de multas, detenções e assassinatos.

O ato terminou com uma violenta repressão da polícia. A coragem de romper o silêncio e  denunciar o preconceito, a discriminação e as arbitrariedades fez com que as prostitutas de Lyon entrassem para a história.

Por isso, o 2 de junho foi declarado, pelo movimento organizado, como o Dia Internacional das Prostitutas.

“Nesta semana, pude assistir um vídeo maravilhoso com depoimentos de Gabriela Leite, a prostituta que primeiro mostrou a cara e iniciou o movimento organizado para pleitear direitos da categoria”, deu-me  a dica Anália Feijó Köhler, aqui, em comentários. ”É fantástico ouvi-la dizer que o movimento não vai aceitar mais nenhum centavo do Ministério da Saúde nem vai participar de licitações enquanto a pasta não passar a ver a prostituta como uma mulher por inteiro. Recomendo!!!!”

São três vídeos. Gabriela Silva Leite tem 62 anos, nasceu em São Paulo, é prostituta aposentada.  Tem duas filhas, uma neta e ajudou a criar o filho do marido, o jornalista Flávio Lens.

Em seu livro  Filha, mãe, avó e puta: a história da mulher que decidiu ser prostituta, fala sobre sua vida.

Filha de uma dona de casa conservadora e de um crupiê, Gabriela, no final da década de 1960, estudava Sociologia na USP, trabalhava num escritório e frequentava círculos da boemia intelectual paulistana.

Decidiu largar tudo, menos a noite, e começou a trabalhar como prostituta. Primeiro, em São Paulo, depois,  em Belo Horizonte, até se radicar no Rio de Janeiro.

Em 1987, ajudou a organizar o Primeiro Encontro Nacional de Prostitutas. Hoje se dedica à defesa da categoria e à  regulamentação da profissão.

É criadora da grife Daspu e diretora da ONG Davida, que fundou em 1991. A Davida  não tem a intenção de tirar as prostitutas da rua. O objetivo é promover a cidadania das mulheres com ações nas áreas de educação, saúde, comunicação e cultura.

No seu blog, em Papos da Gabi, ela publica a seguinte nota sobre a campanha censurada:

As peças que você vê aqui são da campanha ‘Sem vergonha de usar camisinha’, lançada e logo após censurada e tirada do ar pelo Ministério da Saúde do Brasil. A maior parte delas foi elaborada em oficina de comunicação e saúde promovida pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais com prostitutas de diversos estados, em março. A peça com o texto “Eu sou feliz sendo prostituta” e a imagem da prostituta Nilce, de Porto Alegre, foi o mote do governo Dilma para iniciar um escândalo político de consequências imprevisíveis.

Primeiro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mandou tirar essa peça do ar – ou seja, do site do Departamento de AIDS – e ameaçou demitir a equipe de comunicação do órgão. Depois, demitiu o próprio diretor, Dirceu Greco, e censurou todas as outras peças da campanha.

Aqui, porém, você vê tudo o que o governo Dilma tem medo de mostrar, por causa de alianças com fundamentalistas. E pode celebrar conosco esse histórico Dia Internacional das Prostitutas, lembrando que liberdade e felicidade são, sim, parceiras da prevenção em saúde. E que censura, estigma e discriminação são os piores adversários.

Abaixo os três vídeos.

Quem quiser pode ver a transcrição da entrevista que Gabriela Leite deu ao Roda Viva, da TV Cultura, em 2009. Na época, comandado pelo jornalista Heródoto Barbeiro. Uma sugestão da Luana Tolentino.

 

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Fonte: Viomundo

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