A advogada e procuradora Dora Lúcia Bertulio, referência na luta contra o racismo e pelas ações afirmativas no Brasil, fez sua passagem para o Orun nesta sexta-feira, 14 de fevereiro. Natural de Itajaí, em Santa Catarina, foi uma das poucas estudantes negras do seu tempo a ingressar no curso de Direito da Universidade Federal do Paraná, em 1968.
Em 2001, durante a III Conferência Mundial contra o Racismo, realizada em Durban, participou ativamente do fórum, fortalecendo o debate sobre a discriminação racial e a importância das ações afirmativas no Brasil e no mundo. O evento foi importante para impulsionar a criação de políticas reparatórias e estratégias de combate ao racismo estrutural, além de garantir o reconhecimento internacional da luta da população negra brasileira.
No Brasil, sua atuação foi decisiva na implementação das cotas raciais e sociais na Universidade Federal do Paraná. Em 2002, Dora assumiu a chefia da procuradoria da UFPR e se tornou a co-fundadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros. Voltou para a instituição em 2017 e se aposentou em agosto de 2023.
Sua atuação no apoio a vítimas de racismo e na articulação nacional em defesa das ações afirmativas e sua expansão também foi fundamental. Chegou a atuar como procuradora da Fundação Cultural Palmares entre 2009 e 2016 e, em 2017, recebeu o título de Personalidade Afro-Paranaense pelo Governo do Estado do Paraná. Ao longo de sua trajetória, compartilhou relatos sobre as violências sofridas durante a ditadura militar, a marginalização acadêmica e os desafios enfrentados para estruturar políticas que garantissem o acesso da população negra ao ensino superior.
Toda a família Geledés manifesta solidariedade a amigos e familiares neste momento de despedida.
Dora Lúcia Bertulio, presente!