Geledés participa de evento sobre interseccionalidade nas políticas públicas, na Colômbia

Enviado por / FontePor Beatriz de Oliveira

Artigo produzido por Redação de Geledés

Maria Sylvia Oliveira, diretora executiva de Geledés, participou do evento “Enfoque Interseccional para Políticas Públicas com Población Afrodescendiente”, na Colombia

Entre os dias 19 e 22 de maio, Maria Sylvia Oliveira, advogada e diretora executiva de Geledés – Instituto da Mulher Negra, esteve presente no encontro internacional “Enfoque Interseccional para Políticas Públicas com Población Afrodescendiente”, que ocorreu em Cartagena das Índias, na Colômbia. Sua presença marcou a representação da única organização não governamental brasileira convidada para o encontro.

Promovido pelo Ministério da Igualdade da Espanha, em parceria com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a RIAFRO – Rede Interamericana de Autoridades de Alto Nível em Políticas para a População Afrodescendente, o evento pautou a abordagem interseccional nas políticas públicas, com destaque às áreas de saúde, educação, cuidado e justiça.

“A reflexão sobre os desafios relacionados à inserção da interseccionalidade nas políticas públicas foi atravessada pela composição do público presente, majoritariamente formado por mulheres negras oriundas de diferentes países da América Latina e Caribe, o que conferiu ao debate uma perspectiva plural e situada”, pontuou Maria Sylvia. 

Nesta entrevista, a diretora executiva comenta suas impressões sobre o encontro internacional, seu diálogo com Carlos Rosero, Ministro da Igualdade Racial da Colômbia, e suas considerações sobre a questão racial no país latino-americano.

Fotos do evento “Enfoque Interseccional para Políticas Públicas com Población Afrodescendiente”, que ocorreu em Cartagena das Índias, na Colômbia – Enviado para o Portal Geledés

Confira a entrevista completa. 

Geledés: Sua viagem à Colômbia se deu em razão do encontro internacional “Enfoque Interseccional para Políticas Públicas com Población Afrodescendiente”. Qual a sua avaliação sobre o evento?

Maria Sylvia: O evento teve como propósito central promover um debate sobre as possibilidades de incorporação da interseccionalidade na formulação de políticas públicas, com ênfase nos campos da saúde, educação, cuidado e justiça. Em um primeiro momento, buscou-se aprofundar a compreensão do conceito de interseccionalidade em toda a sua complexidade teórica e política e a sua importância na elaboração de políticas públicas. 

As discussões desenvolvidas ao longo do encontro mostraram-se muito interessantes, culminando na proposição de um novo conceito, denominado “interseccionalidade estrutural”. Manifestei minha discordância com essa proposta, pois acredito que as formas de opressão gênero, raça, classe, que são os eixos de opressão e subordinação, são os fatores que operam de forma interseccional na experiência de vida das mulheres negras. Esses são eixos de opressão e subordinação que estruturam a sociedade. Portanto, na minha concepção, não é precioso qualificar a interseccionalidade como estrutural; estruturais são o racismo patriarcal, o sexismo, etc.

A reflexão sobre os desafios relacionados à inserção da interseccionalidade nas políticas públicas foi atravessada pela composição do público presente, majoritariamente formado por mulheres negras oriundas de diferentes países da América Latina e Caribe, o que conferiu ao debate uma perspectiva plural e situada.

Como desdobramento, esperamos um documento com os aportes das discussões e a possibilidade de utilização para futuras políticas públicas na América Latina. 

Geledés: Sua viagem também foi marcada por uma conversa com Carlos Rosero, Ministro da Igualdade Racial da Colômbia. O que pautou esse diálogo?

Maria Sylvia: Durante as atividades do encontro, o Ministro da Igualdade Racial da Colômbia, Carlos Rosero, esteve presente para um breve pronunciamento aos presentes e, depois, durante um coquetel, conversou muito rapidamente com os participantes das atividades.

Portanto, a conversa não foi por demais aprofundada. Ele expressou a sua admiração e respeito pela intelectual Sueli Carneiro, principalmente a importância de sua atuação no movimento de mulheres negras no Brasil. Relembrou as atividades e conversas sobre a Conferência de Durban, fez menção ao CARICON (Comunidade e o Mercado Comum do Caribe, criada em 1973 pelo Tratado de Chaguaramas, um bloco de cooperação econômica e política que visa a integração regional dos países do Caribe) e a sexta região (nome dado pela União Africana à diáspora – população afrodescendente que vive fora do continente africano -, reconhecida como uma região distinta).

Geledés: De modo geral, como a Colômbia lida com a questão racial?

Maria Sylvia: Considero que a Colômbia apresenta um debate significativamente avançado no que se refere à temática racial, mas não tão avançado como no Brasil, apesar da eleição de uma vice-presidente negra. No entanto, existe um movimento negro atuante e, a partir desta luta politica, a exigência de que o Estado assuma compromisso político com a pauta racial.

Geledés: Nesse âmbito da questão racial, a senhora observa semelhanças entre Colômbia e Brasil?

Maria Sylvia: Atualmente, ambos os países se destacam no cenário latino-americano por manterem Ministérios da Igualdade Racial, o que revela uma convergência importante em termos de estrutura governamental. Assim como o Brasil, a Colômbia tem investido na institucionalização de políticas voltadas à promoção da equidade racial. Essa similaridade institucional evidencia potencial para o intercâmbio de experiências e o fortalecimento de estratégias comuns no enfrentamento do racismo estrutural na região.

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