Grávidas negras e pardas recebem menos anestesia no parto

 

 

As desigualdades raciais e sociais atingem mulheres não somente no cotidiano, mas também no acesso aos serviços de saúde. Do pré-natal ao parto, mulheres grávidas negras e pardas permanecem em situação desfavorável quando comparadas às brancas. As pesquisadoras Maria do Carmo Leal, Silvana Granado Nogueira da Gama e Cynthia Braga da Cunha, da Escola de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, analisaram a situação de grávidas negras, brancas e pardas com relação à qualidade de vida, escolaridade e atendimento médico em estabelecimentos públicos e privados do Município do Rio de Janeiro.

Foram investigadas 9.633 puérperas (logo após o parto ou que deram à luz recentemente) entre 1999 e 2001. Destas, 5.002 eram brancas, 2.796 pardas e 1.835 negras. Os dados foram coletados a partir de prontuários médicos e em entrevistas com as mães no pós-parto. Segundo artigo publicado na edição de fevereiro de 2005 da Revista de Saúde Pública, “há maior concentração de puérperas adolescentes entre as negras (24,5%), seguidas pelas pardas (22,3%). Pardas e negras apresentam menor grau de escolaridade. Apenas 1,3% das negras e 2,8% das pardas completaram o ensino superior, em contraste com 13,1% alcançado pelas brancas. O prejuízo da gravidez precoce não se restringe aos efeitos adversos sobre o recém-nascido, mas se estende a outras esferas da vida social da mãe, tais como a evasão escolar e pior qualificação profissional, levando à baixa colocação no mercado de trabalho”.

As desigualdades na área profissional são agravadas pelo baixo nível de instrução. Entre as negras, é grande a proporção de mulheres que tiveram menos de quatro anos de estudo, resultado duas vezes maior que o obtido entre brancas e pardas. Segundo as pesquisadoras, 44,3% das mulheres entrevistadas possuem trabalho remunerado, enquanto entre negras e pardas este percentual cai para 32,0%.

Sofrer agressão física, fumar, tentar interromper a gravidez e peregrinar em busca de atenção médica foram situações mais freqüentes entre as negras, seguidas das pardas e das brancas com baixa escolaridade. A ausência do pai do bebê no domicílio das mães negras foi maior. Para as pesquisadoras, “estes dados evidenciam uma situação de desamparo emocional e econômico que se soma ao maior maltrato físico vivenciado durante a gestação”. De acordo com o artigo, “mulheres negras e pardas são majoritariamente atendidas em estabelecimentos públicos, 58,9% e 46,9%, e nas maternidades conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS), 29,6 e 32,0%. Por outro lado, quase metade das brancas, 43,7%, tiveram seus partos realizados em maternidades privadas. Estes resultados reforçam a desigualdade no acesso ao serviço de saúde entre mulheres de diferentes etnias.”

Entre mulheres negras de baixa escolaridade, observou-se que aproximadamente um quinto não realizou acompanhamento pré-natal considerado adequado. Conforme o artigo, “a perambulação pelas maternidades na hora do parto é um exemplo da falta de acolhimento nas instituições de saúde. Um terço das pardas e negras não conseguiu atendimento no primeiro estabelecimento procurado e, no parto vaginal, recebeu menos anestesia. A ausência de planejamento sistêmico para assistência ao nascimento no município do Rio de Janeiro tem conseqüências danosas para mãe e filho”.

Para Maria do Carmo, Silvana e Cynthia, “não há como deixar de constatar que há dois níveis de discriminação na sociedade: a educacional e a racial. Ambas invadem a esfera da atenção oferecida pelos serviços de saúde à população de puérperas do Município do Rio de Janeiro. Os resultados obtidos com a pesquisa deveriam ser divulgados aos planejadores das políticas públicas, quanto à humanização no atendimento às gestantes, e incorporados aos treinamentos dos profissionais de saúde”.

 

 

 

Fonte: Elo Internet

+ sobre o tema

Sobre escolhas e privilégios (ou porque eu quero um SUV)

Viver em uma metrópole é sinônimo de ser assediado...

Lei que exclui lésbicas de reprodução assistida cria polêmica na Espanha

Norma foi aprovada pelo Conselho Interterritorial do Sistema Nacional...

Fundação Palmares comemora 25 anos

  Programação Brasília 19 de agosto10h - Sessão...

para lembrar

Como falar com seus filhos sobre abuso sexual

A orientação dos especialistas para tratar de um tema...

Jean Wyllys: ‘Dilma se precipitou’, diz deputado sobre suspensão de kit contra homofobia

Jean Wyllys (PSOL) diz que bancada evangélica teve reação...

Senado aprova multa para quem paga salário diferente para mulher

Texto, que agora segue para a Câmara, pretende assegurar...

Detentos homossexuais terão direito à visita íntima em presídios

Os detentos têm direito ao benefício pelo menos uma...
spot_imgspot_img

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...

Escolhas desiguais e o papel dos modelos sociais

Modelos femininos em áreas dominadas por homens afetam as escolhas das mulheres? Um estudo realizado em uma universidade americana procurou fornecer suporte empírico para...

Ministério da Gestão lança Observatório sobre servidores federais

O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) lança oficialmente. nesta terça-feira (28/3) o Observatório de Pessoal, um portal de pesquisa de...
-+=