Grupos feministas lutam por mais mulheres no Panteão de Paris

Atualmente, só Marie Curie e Sophie Berthelot estão incluídas entre os 73 homenageados

Por Amanda Lourenço, de Paris para o Opera Mundi

A conta não fecha: 71 homens para apenas duas mulheres. Este é o número de homenageados no Panteão de Paris, onde a tradição diz que importantes personalidades repousam eternamente por feitos históricos e contribuição para a humanidade. Mas a grande desproporção na representatividade de gêneros é tão evidente que o tema virou bandeira de luta de grupos feministas.

O Coletivo por Mulheres no Panteão foi criado por mais de 50 associações feministas com o objetivo de reconhecer, através da inclusão no Panteão, a importância histórica de mulheres que se destacaram em diferentes esferas da sociedade. Das duas mulheres homenageadas, apenas uma está lá por méritos próprios, Marie Curie, cientista ganhadora de dois prêmios Nobel. A outra é Sophie Berthelot, que está ao lado do marido a pedido do próprio em razão de sua “virtude conjugal”.

Anne-Cécile Mailfert, representante do grupo Osez le Feminisme (Ouse o feminismo), conversou com a reportagem de Opera Mundi sobre a escassez de mulheres premiadas. “O Panteão é um lugar extremamente simbólico, ele reconhece os méritos dos grandes personagens da história e é um reflexo de seu tempo. Na época de Napoleão, os generais eram homenageados, mas hoje em dia queremos que a igualdade entre mulheres e homens seja uma priorioridade.”

O presidente francês, François Hollande, já havia tocado no assunto em discurso pelo Dia Internacional da Mulher, em março deste ano. Ele prometeu a inclusão de mais mulheres na instituição e, na ocasião, lançou um apelo para decidir as candidatas. Para ajudar o presidente no impasse, o Coletivo organizou uma votação informal em sua página do Facebook e chegou ao consenso de cinco nomes: Simone de Beauvoir, filósofa e escritora; Louise Michel, professora e um dos ícones da Comuna de Paris; Germaine Tillion, antropóloga e resistente ao nazismo; La Mulâtresse Solitude, figura histórica da resistência à escravidão em Guadalupe; e Olympe de Gouges, escritora revolucionária

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O Coletivo não pede a substituição de nenhum homem, apenas a inclusão de mais mulheres. No entanto, a presença de alguns indivíduos no Panteão levanta debates. Jean-François Decraene, autor de “Petit dictionnaire des grands hommes du Panthéon”, já afirmou que os generais napoleônicos não têm nada a fazer na instituição, pois são os valores cívicos que devem ser homenageados. Uma opinião controversa, pois há cerca de 40 generais dentro do Panteão.

Outros homenageados polêmicos são Joseph Bara, um menino de 14 anos morto pela Revolução Francesa, e Jacques-Germain Soufflot, o próprio arquiteto do Panteão que pediu para ser exumado no monumento.

Para ouvir a opinião da população sobre os possíveis novos moradores do Panteão, o Centro de Monumentos Nacionais da França abriu uma votação em sua página na internet onde quaquer pessoa pode indicar seu candidato. A enquete ficará aberta até este domingo (22/09) e personalidades masculinas também podem ser votadas. Mas as associações feministas esperam que as mulheres se destaquem. ” Uma sociedade que não é capaz de reconhecer o talento das grandes heroínas de seu passado provavelmente não será capaz de reconhecer o talento das pequenas heroínas do cotidiano nas empresas, nos lares, na política”, argumenta Mailfert.

Se a entrada de mulheres for confirmada, talvez o Panteão terá que reformular a frase estampada em sua fachada: “Aos grandes homens, a pátria reconhecida”.

Fonte: Revista Forum

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