Hipertensão: um alerta

Manter a pressão abaixo de 14 – isso basta? Novos estudos indicam que não
por Riad Younes, do  Carta Capital 

A hipertensão, ou pressão arterial elevada, é uma das doenças mais prevalentes na atualidade. Mais de 1 bilhão de pessoas apresentam atualmente pressão arterial acima do nível aceitável. As autoridades de saúde e os especialistas de todo o mundo concordam que o controle da hipertensão, por quaisquer métodos disponíveis, tem impacto significativo em reduzir as chances de morte precoce por doenças cardiovasculares.

Até a semana passada, as sociedades de cardiologia recomendavam manter a pressão sistólica, a máxima medida, abaixo de 140 mm de mercúrio. Eis que acontece uma espécie de turbilhão no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. Um estudo chamado Sprint foi submetido a avaliação periódica rotineira, e seus resultados alarmaram todos os envolvidos, a ponto de recomendarem a suspensão imediata da pesquisa e a publicação acelerada dos resultados para todo mundo ver. Dito e feito.

O estudo foi publicado na prestigiosa revista New England Journal of Medicine há poucos dias. Isso raramente ocorre na medicina. Por que o desespero? O tão aguardado estudo demonstrou que as recomendações rotineiras atuais eram insuficientes. Precisam de mudanças drásticas.

Para entendermos tais resultados impactantes conversamos com professor Marcelo Sampaio, cardiologista-chefe do Ambulatório de Biologia Molecular do Instituto Dante Pazzanese e diretor clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

CartaCapital: Por que tanto alarde a respeito do estudo Sprint?

Marcelo Sampaio: É um estudo com grande impacto em nosso modo de tratar a hipertensão.

CC: Como foi feita a pesquisa?

MS: Estudo extenso, bem desenhado, realizado em 102 centros nos Estados Unidos, avaliando 9.361 pacientes, com idade mínima de 50 anos, uma pressão sistólica (pressão máxima) entre 130 e 180 mmHg, e portadores de alto risco cardiovascular, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Os pacientes foram sorteados para dois grupos: um recebeu tratamento convencional, com o objetivo de manter a pressão sistólica menor do que 140 mmHg, e outro grupo denominado de tratamento intensivo, com pressão sistólica forçada abaixo de 120 mmHg. Após um período médio de três anos, os resultados evidenciaram uma maior proteção e um melhor desfecho no grupo do tratamento intensivo, que apresentou menores taxas de eventos cardiovasculares fatais e não fatais e uma melhor sobrevida, com redução da mortalidade. A redução dos eventos cardiovasculares para o grupo de tratamento intensivo foi de 25% em relação ao tratamento convencional.Esses resultados reafirmam a necessidade de combater e controlar os níveis de pressão arterial sistólica, principalmente na população mais idosa.

CC: Na prática diária no Brasil, o que o estudo Sprint modificará?

MS: A meu ver, essa prática de redução mais intensiva dos níveis de pressão arterial sistólica deve aos poucos ser incorporada em nossa forma assistencial. Recomenda-se que os hipertensos discutam com seus clínicos a revisão das indicações do controle da pressão sistólica. Apesar do diagnóstico de hipertensão arterial ser fácil, o seu tratamento ainda e muito complexo especialmente em nosso país.

CC: Quais são essas dificuldades?

MS: Atualmente, no Brasil, a maior parte dos pacientes hipertensos não está bem controlada, mesmo quando se admitem níveis de redução da pressão arterial sistólica menores do que 140 mmHg como objetivo de tratamento . O controle da pressão arterial envolve a prescrição de mais de uma classe de medicamentos, não raramente 80% dos pacientes com pressão arterial bem controlada estão tomando ao menos dois medicamentos. Isso implica elevados custos para o sistema de saúde.Antes de nos preocuparmos com reduções acentuadas da pressão arterial temos de melhorar o acesso dos nossos pacientes ao tratamento medicamentoso. 

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