Por: Arísia Barros
Faz tempo que não ouço o martelar cotidiano do meu pai em sua funilaria. Era um homem valente, meu pai, desses que tem uma porção de determinação para rasgar os asfaltos da vida com a força de quem crê no que faz.
Meu pai morreu faz, quase, dez anos e aí tem uma eternidade de saudade do velho reclamado que me chamava de sinhá Arísia, como a lembrar de tempos outros.
Era uma cabra do qual tenho orgulho. Semi-analfabeto me ensinou, no correr dos meus cinco anos, o gosto pela letras quando comprava a revista “Cruzeiro’ ( faz tempo!) para atualizar-se quanto as coisas do mundo, e eu me deliciava com toda aquela montanha de imagens coloridas e letras, milhares letras coladas em páginas, para serem decifradas. Discutia política com a credulidade do homem que investe certezas em outrem. Morreu descrente dela.
Serralheiro era chamado de mestre, pois além de ser muito bom no que fazia, educou gerações na arte do ferro. Não tinha riquezas materiais. A maior riqueza que meu pai dizia ter era seu nome e falava isso para os nove filhos. O nome é o bem mais precioso. É sua honra social, insistia meu pai.
Meu pai possuía uma honestidade áspera!
Meu pai não viu minha filha tornar-se adolescente, era ela que, aos cinco anos, ajudava a trocar os curativos de sua perna roída pela diabetes. Ainda hoje, minha filha lembra do avô chamando a esposa: Zefa, traz meu remédio!
Hoje acordei com uma saudade enorme do meu pai, não só porque é dia dos pais, mas pelo tanto assim de falta que ele faz.
Fonte: Cada Minuto