Mais mulheres viram juízas e ocupam 36% das vagas dos tribunais do pais

Elas também avançam na cúpula do Judiciário. Ellen Gracie, que se aposentou agora, foi a 1ª

As mulheres são a maior parte da população no Brasil e já representam quase metade do total de advogados em exercício no país (45%), de acordo com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Também entre os juízes, as mulheres avançam e chegam a ocupar hoje mais de 30% das cadeiras dos tribunais estaduais, segundo levantamento feito pelo R7junto aos 27 tribunais de Justiça brasileiros.

Um marco do poder feminino na Justiça foi a escolha de Ellen Gracie, em 2000, para ser ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), a primeira mulher a ocupar o cargo na mais alta Corte do país, e que se aposentou agora, no início de agosto. Mas a vaga deve continuar em mãos femininas, já que outras sete estão entre os cotados.

Se Ellen foi a primeira na cúpula do Judiciário, hoje não é a única. Onze anos depois, elas representam 15% do comando do STF, STJ (Superior Tribunal de Justiça), STM (Superior Tribunal Militar), TST (Tribunal Superior do Trabalho) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Nos tribunais estaduais do país, onde as mulheres também ganharam espaço, as informações que comprovam o aumento do número de juízas se referem à média obtida em 15 Estados, cujos tribunais possuíam dados atualizados do número de homens e mulheres que atuavam como juízes ou desembargadores até julho: Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

Nestes locais, do total de 8.708 magistrados em exercício – entre profissionais da 1ª e da 2ª instâncias –, 5.590 (64%) são homens e 3.118 (36%) são mulheres. O CNJ (Conselho Nacional de Justiça), por sua vez, não possui dados unificados sobre a participação feminina no Poder Judiciário, mas todos os tribunais disponibilizam, no mínimo, as informações sobre membros da segunda instância (veja a tabela completa abaixo).

A proporção é praticamente a mesma quando avaliadas apenas as regiões. No Sul e no Sudeste, por exemplo, o percentual de mulheres é de, respectivamente, 38% (748 magistradas, contra 1.209 homens) e 35% (1.641 mulheres, para 3.116 homens).

Para especialistas ouvidos pelo R7, a tendência é que essa diferença diminua com o tempo, devido à crescente entrada de mulheres nas cortes por meio de concursos públicos, como avalia a juíza Renata Gil de Alcântara Videira, vice-presidente de Direitos Humanos da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e juíza titular da 40ª Vara Criminal da capital do TJ-RJ.

– No Rio de Janeiro, nós ainda temos uma maioria masculina, principalmente no segundo grau, mas no primeiro grau a quantidade é quase igual, são apenas 30 juízes a mais que juízas. Como o caminho natural é que os magistrados mais antigos se aposentem, as mulheres, que chegaram depois, vão se igualar aos homens, ou até ultrapassá-los, daqui a alguns anos.

De fato, o Rio é um dos Estados onde as mulheres mais avançaram no setor: 45% das cadeiras disponíveis no Estado são ocupadas por elas. O Estado, porém, sofreu um choque recentemente, com o assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ), ocorrido na última sexta-feira (12). A morte da magistrada, reacendeu a discussão sobre o esquema de segurança a que os juízes – homens e mulheres – devem ter direito para exercerem com segurança suas atividades.

Além do Rio, outros Estados também caminham para equiparara a distribuição de vagas entre homens e mulheres, como Sergipe (49%), Rio Grande do Sul (45%) e Bahia (43%). Segundo Renata Gil, porém, a ausência de pesquisas nacionais ainda impede a identificação de quais áreas da Justiça mais atraem mulheres – se é que existe um setor mais “feminino” no Judiciário.

Já em São Paulo – Estado com o maior número de magistrados do país –, embora juízas e desembargadoras representem 32% do total, o número de candidatas aprovadas em concursos no TJ-SP vem aumentando a cada ano. Só para se ter uma ideia, em 2010, esse número foi cerca de 1.350% maior que em 1983, ano em que passaram a ser computados esses dados (veja a evolução na tabela abaixo).

E apesar de o levantamento abordar somente os tribunais estaduais (Justiça comum), o cenário não é diferente na Justiça Federal. Entre 2005 e 2010, o número de magistrados federais ativos (de primeira e segunda instância) cresceu 18%, mas a proporção de mulheres permaneceu praticamente intacta: há cinco anos, elas ocupavam 31,2% das vagas e, no ano passado, 31,8%.

Devagar e sempre

A presença feminina é ainda menor entre os desembargadores [juízes que decidem em segunda instância]. Para se ter uma ideia, em apenas 2 dos 27 tribunais de Justiça do país as mulheres são maioria: no Pará, onde há 11 desembargadores e 16 desembargadoras (59%), e na Bahia, que conta com 17 desembargadores e 18 desembargadoras (51%).

As mulheres também ocupam as presidências de tribunais de Justiça de quatro Estados – Bahia, Pará, Rio Grande do Norte e Tocantins –, o que representa 15% das chefias das cortes estaduais.

De acordo com o advogado Sidnei Amendoeira Junior, professor de Processo Civil da escola de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas), como o critério para ser promovido de juiz a desembargador é por tempo ou merecimento – o que de qualquer forma leva anos para ocorrer –, a evolução das mulheres nas instâncias superiores deve demorar um pouco mais.

Entretanto, a equiparação do número de mulheres na segunda instância não é o maior desafio das profissionais da área. Os principais obstáculos, talvez, ainda sejam alguns inimigos comuns às profissionais de fora do Judiciário: o preconceito e a diferença salarial – este último presente nos escritórios de advocacia, não nos tribunais.

Nas cortes, onde os magistrados ganham os mesmos salários, o que “pega” é a discriminação de gênero. De acordo com a juíza Alessandra de Araújo Bilac Moreira Pinto, da 42ª Vara Criminal da capital do Rio, embora o tratamento seja respeitoso por parte da maioria dos colegas, alguns advogados ainda dão dor de cabeça no dia a dia.

– Eu já tive que dar voz de prisão a um advogado em uma audiência por desrespeito. […] Ele não fez referência direta ao fato de eu ser mulher, mas a gente percebe que, infelizmente, alguns não se conformam com a nossa presença aqui, acham que o nosso lugar é no tanque. Então é preciso impor respeito.

Já no setor privado, a diretora do Conselho Federal da OAB, Márcia Machado Melare, admite que ainda há diferenças entre os salários de advogados e advogadas. Porém, ela chama atenção para a responsabilidade das próprias mulheres em lutar por seus direitos.

– A gente tem que assumir algumas culpas, pois estamos tão bem preparadas quanto eles, a nossa dedicação é ainda maior que a dos homens e, às vezes, não conseguimos ganhar o mesmo que eles, pois o homem luta pelo que acha que merece e nós, muitas vezes, não fazemos isso.

 

Fonte: R7

+ sobre o tema

Trabalhador que aderir à greve não pode ser demitido por justa causa

Contra a Reforma da Previdência e Trabalhista, movimentos sindicais...

Marcos Coimbra: Serra nacionalizando São Paulo

Nacionalizando São Paulo por Marcos Coimbra Chega a ser comovente...

Caso Afroreggae:Policiais são denunciados por órgão militar

Fonte: Folha de S. Paulo A promotora Christiana de...

Após depoimento de Lula, jurista pede para retirar artigo de Moro em livro

“Sérgio Moro me deixou triste e decepcionado com tudo...

para lembrar

Movimentos iniciam coleta de assinaturas pela Reforma Política

Plataforma de diversas entidades sociais precisa recolher 1,5 milhão...

Campanha tucana mobiliza subprefeituras de São Paulo para pedir votos a Serra

Com “dedo” de Kassab, encontros reúnem lideranças comunitárias por...

Cidadania: Advogado ganha indenização de R$15 mil por pegar trem da CPTM lotado em São Paulo

A Justiça paulista condenou a CPTM (Companha Paulista de...

Moradores se recusam a colaborar com o Censo, no interior paulista

Em alguns casos os recenseadores são obrigados a recorrer...

Em 20 anos, 1 milhão de pessoas intencionalmente mortas no Brasil

O assassinato de Mãe Bernadete, com 12 tiros no rosto, não pode ser considerado um caso isolado. O colapso da segurança pública em estados...

CPMI dos Atos Golpistas: o eixo religioso

As investigações dos atentados contra a democracia brasileira envolvem, além dos criminosos que atacaram as sedes dos três Poderes, políticos, militares, empresários. Um novo...

Como pôr fim ao marco temporal

A tese do marco temporal, aprovada na Câmara nesta terça-feira (30), é ancorada em quatro pilares: genocídio, desinformação, atraso e inconstitucionalidade. Dos dois últimos, deve-se dizer...
-+=