Hoje na História, 1991, há 20 anos morria Padre Batista

“Padre Batista, eu tive fome e me deste de comer. Padre Batista, eu tive sede, e me deste de beber. Padre Batista, eu fui preso, e tu me visitaste” **

Um artigo é muito pouco pra falar sobre a trajetória de vida de Benedito Batista de Jesus Laurindo ou Padre Batista. Nascido no dia 05 de agosto de 1952, na vizinha Matão, porém vivendo toda infância na cidade de Araraquara.

Os caminhos seguidos pelo menino “Ditinho”, engraxate aos nove anos, não foram diferentes das agruras sobejamente conhecida pelas crianças negras, pobres e sobreviventes das periferias, ainda mais com a “audácia” de querer desde pequeno ser Padre, demonstrando sua vocação religiosa logo aos três anos de idade.

Suas tentativas de inserção no mundo religioso por aqui foram frustradas por diversas justificativas inaceitáveis e como o mesmo se identificava muito com a Igreja católica, via nessa vocação uma alternativa para superar seus obstáculos e resolve tentar abrir outras portas na cidade de São Paulo.

No dia 07 de dezembro de 1979, Batista recebe os ministérios do Leitorado e Acolitado na Igreja Cristo Redentor, na Cidade Líder em Itaquera – SP, já sendo o representante dos seminaristas do estado.

Vitima de racismo, Padre Batista passou por impiedosas perseguições policiais, de família e empresários que não o aceitavam na paróquia e por seu idealismo de contemplar na região leste da capital paulista pessoas menos favorecidas.

Mesmo sofrendo tantas pressões, Pe. Batista seguiu enfrentando muitos que discordavam dos seus métodos inovadores de olhar para os excluídos, enfatizando a Teoria da Libertação e conseguiu unir o movimento negro e as comunidades católicas.

Em 25 de outubro de 1980, recebe o diaconato, se ordenando seminarista já em São Miguel Paulista. Em 1981 Dom Evaristo Arns o convida para ser diácono na Igreja da Sé, recebendo inicialmente a função de ser o primeiro negro cantor oficial das missas pontificiais, um fato inédito na história da Igreja, transformando a liturgia que tinha um caráter de serenidade, em algo animado, com hinos agitados, palmas e ritmos mais fortes.

Nesse processo, Batista realiza um trabalho assistencialista com as “crianças de rua” que ficam na Praça da Sé, dando-lhes café e ensinando o ofício de engraxates e o trabalho se expandiu tornando-se Centro Comunitário da Criança e do Adolescente.

Em 1984, padre Batista foi ordenado sacerdote com uma das maiores celebrações já existentes na Catedral da Sé, estavam presentes todos os familiares, lideranças do movimento negro, Padres, Religiosos, os menores de rua, representantes de favelas, autoridades políticas, tudo registrado e televisionado pela TV Cultura. Nesse mesmo ano, foi nomeado vigário paroquial da Catedral da Sé e em junho foi nomeado reitor da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, atuando também como Capelão.

Padre Batista fez história e atuou fortemente no Movimento Negro e dentro dos diversos entraves, chamava a atenção para a ausência de negros nas universidades, é criado então em 1987 o Instituto do Negro com a finalidade de qualificar negros para o mercado de trabalho e preparar para o ingresso nas universidades.

Batista também criou o Quilombo Central, o Instituto Mariana dos Bispos e Padres Negros e a casa da Menina Mãe, onde abrigava adolescentes grávidas e desamparadas. Criou também a Associação das Empregadas Domésticas para que reivindicassem seus direitos e trabalhassem a auto-estima.

No dia 13 de novembro de 1989, foi nomeado pároco da Paróquia de São Januário na Mooca-SP.

Padre Batista faleceu no dia 10 de agosto de 1991 aos 39 anos. 20 anos se passaram e seus trabalhos e ideologias permanecem. Escolas, ruas, Centros Comunitários e outros próprios públicos levam seu nome na cidade de São Paulo e sua história de vida ainda é recontada como exemplo de superação e por todas suas mensagens de esperança e fé que ainda permanecem em todos que lutam para um mundo mais justo e de igualdades.

*Alessandra de Cássia LaurindoCoordenadora Executiva de Promoção da Igualdade Racial de Araraquara

** Trecho extraído do poema deixado anonimamente no Instituto do Negro Padre Batista, em São Paulo.

Fonte: Folha Cidade

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