A Bahia vai festejar o seu principal símbolo, a baiana do acarajé, nesse fim de semana, com muito samba pelas ruas do Centro Histórico de Salvador.
A programação começa no sábado (24/11), das 8 às 18h, com a realização do 3º Seminário de Formação de Baianas, no Memorial, localizado na Praça da Cruz Caída (antigo Belvedere da Sé).
Aberto ao público, o seminário terá entre os palestrantes o historiador Jaime Sodré, a Yalorixá Jaciara Ribeiro, representantes do Ministério da Cultura, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a secretária de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia, Vera Lucia da Cruz Barbosa.
No domingo (25), Dia Nacional da Baiana, instituído desde 2010, uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (1704), no Pelourinho, abre as comemorações, a partir das 9h.
Após a celebração, homenageadas e convidados saem em cortejo pela Ladeira do Pelourinho, Terreiro de Jesus e Praça da Sé, acompanhadas de bandas tocando samba, até a Praça da Cruz Caída, onde a programação prossegue com um almoço e mais festa com os grupos Samba de Roda Urbano, Samba do Tororó, Bicho da Cana, Catadinho do Samba, Samba de Roda Fogueirão e Samba Quem Bossa.
Com suas vestes brancas, pulseiras e colares, saia rodada e torço na cabeça, a baiana é, desde meados do século passado, a melhor representante do povo da Bahia para o turismo. Sorriso largo e fitinhas do Bonfim nas mãos, ela recepciona turistas nos aeroportos e portos das cidades, participa de festas de largo e carnavais, dentro e fora do país, e representa o Brasil em eventos nacionais e internacionais.
De acordo com a Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares no Estado da Bahia (ABAM) existem na Bahia, aproximadamente, seis mil profissionais (em torno de três mil em Salvador) que vivem e sustentam suas famílias através do ofício de baiana (ou baiano) do acarajé ou do receptivo turístico;
Um pouco da história
A história da baiana do acarajé começa no período da escravidão, quando os negros chegaram à Bahia , a partir do século XVI, com seus costumes e religião. O acarajé e o abará, principais produtos do tabuleiro da baiana, eram, ao mesmo tempo, alimentos para o corpo e para o espírito, preparados nos terreiros de Candomblé para cultuar os orixás Iansã e Xangô.
Já no final do século XIX, as mulheres tinham a permissão (dos senhores) para sair no final do dia, com o tabuleiro na cabeça (protegida por um torço de pano da costa), para mercar os bolinhos, feitos de massa de feijão fradinho descascado, cebola, gengibre e camarão. Através de um canto tradicional, iam chamando o povo para comprar e comer, usando a expressão em tom de canto “acará jê” (de akàrà, bola de fogo, e jê, vender).
Depois da abolição, em 13 de maio de 1888, a tradição continuou. Até meados da década de 70 do século XX, as baianas mantinham o costume de vender o produto somente à tarde e à noite. Depois que o acarajé caiu no gosto do turista, passou a ser um dos cartões de visita da culinária baiana e a ser vendido durante o dia.
O dia a dia
Rita dos Santos, presidente da ABAM, revela que o dia-a-dia de uma baiana é igual ao de qualquer outro trabalhador brasileiro: acordar bem cedo para preparar os quitutes e doces que compõem o tabuleiro, cuidar da casa, da família, e arrumar as vestes típicas, agora obrigatórias para exercício do ofício de baiana.
O tabuleiro tradicional – também protegido pelos tombamentos do Iphan, do Ipac e pela lei municipal 12.175, de 1998 – deve ter, além do acarajé e do abará (bolinho cozido e enrolado em folha de bananeira), os complementos (vatapá, caruru, camarão seco, salada e pimenta), as cocadas (três variedades), bolinho de estudante, e passarinha (baço de boi cozido e cortado em tiras).
Outra tarefa é cuidar da vestimenta, que deve ser composta por torço (cabeça), bata, camisu ou “blusa de criola” bordada ou de rendas, saia e sandália, quando a baiana trabalha no tabuleiro, e os trajes mais coloridos (cores dos “orixá”) para a baiana de receptivo, explica Jacilene Monteiro dos Santos, coordenadora executiva da ABAM e baiana de receptivo e venda de mingau.
As duas categorias são igualmente respeitadas e importantes no mercado: enquanto a quituteira preserva a tradição culinária, a de receptivo e eventos “expõe para o mundo a beleza e a tradição da Bahia”, ressalta Rita Santos.
Tradição de gerações
O ofício geralmente passa de mãe para filhos. Tânia Bárbara Nery, que herdou o tabuleiro de Adelina dos Santos, a Preta do Farol, que, por sua vez, o recebeu de Beatriz dos Santos, é uma das baianas que tem a felicidade de ter toda a família envolvida pelo ofício de baiana.
Ela trabalha com os dois filhos – Anderson Nery, de 25, e Ana Cássia, de 30 anos, e já prepara a neta, Isis, de quatro anos, filha de Anderson, cuja brincadeira é vestir-se de baianinha e encantar os turistas no Farol da Barra, quando acompanha a família ao tabuleiro. “Minha satisfação é ver que os meus dois filhos assumiram, e a minha neta está chegando para manter a tradição”.
Fonte: Tribuna da Bahia