Um caso flagrante de racismo dentro de um ônibus na Asa Norte. Um homem, de 35 anos, teria cuspido na cara de uma mulher e a chamado de “negra safada”, segundo testemunhas, sem razão aparente. Depois, teria agredido um homem, também negro, que queria denuncia-lo para a polícia.
De acordo com a polícia, o comerciante André Luís Soares Nasser foi preso em flagrante suspeito de crime de injúria qualificada pelo elemento racial. A agressão ocorreu por volta de 10h30, na linha de ônibus que faz o percurso L2 Norte/Rodoviária do Plano Piloto.
A vítima do racismo, a copeira do Ministério do Trabalho Luana (nome fictício) conta que pegou o ônibus porque estava atrasada para o trabalho. Ela disse ter visto André Soares entrando pela porta do meio sem pagar. E que em nenhum momento chegou a olhar diretamente para ele, nem na hora da agressão. “Ele me humilhou. Foi horrível e nojento”, descreveu Luana. Logo depois, a copeira diz que ficou em choque, sem reação e temendo ser agredida. Indignado, Pablo (nome fictício) se levantou para defender a mulher e também foi intimidado por André Luís.
Pablo foi até o motorista e pediu que não abrisse as portas para que o agressor fosse levado à delegacia. Nessa hora, André Luís teria investido contra ele com três socos, até que Pablo conseguiu subjugá-lo, pegando-o pelas costas. “Eu tive que o segurar da 609 Norte até a Rodoviária do Plano Piloto enquanto ele me xingava”. Na Rodoviária, uma equipe da Polícia Militar conteve o homem, que desceu do ônibus com calma até chegar à delegacia da área central de Brasília.
O delegado Laércio Rosseto prendeu André Luís em flagrante por injúria pelo elemento racial. Ele diz ter analisado o caso com atenção e decidido por este indiciamento “porque apesar dele ter chamado a mulher de negra safada sua intenção era ofender a honra subjetiva e não cometer o racismo (ofender à raça), previsto no artigo 15 da Lei 7716/89”. Apesar disso, ele lembra que não há uma única delegacia no Brasil especializada em denúncias de preconceito. Disse, porém, que sempre priorizará e irá tratar de forma rigorosa ocorrências dessa natureza.
Durante o dia de ontem, na delegacia, vários representantes de causas sociais foram prestar apoio moral e jurídico à vítima. Julio Romário da Silva, presidente do Conselho de Defesa dos Direitos dos Negros, disse que não há mais espaço para casos de racismo como esse nos dias de hoje. “Nosso objetivo é fazer com que a sociedade tome conhecimento deste fato”. Agora, ele diz que o Conselho de Negros irá tentar junto ao Ministério Público mudar a caracterização do crime para racismo. O secretário Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Humberto Adami, disse que o trabalho da polícia foi um exemplo. “Em todo o Brasil os delegados têm dificuldade para tipificar casos semelhantes”.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília