Ícaro Silva sobre ser um homem negro no Brasil: ‘É preciso estar atento e forte’

Ícaro Silva deixou o Brasil de boca aberta no mês passado, quando encarou o desafio de imitar Beyoncé no quadro Show dos Famosos, do Domingão do Faustão. Com look poderoso, salto alto e madeixas postiças, o ator foi uma Queen Bey perfeita no palco, cantando e dançando um dos maiores hits da diva negra, Crazy in Love.

O talento do ator de 30 anos – cuja trajetória já reúne trabalhos de sucesso no teatro (S’imbora, o Musical – A História de Wilson Simonal), cinema (Elis) e TV (Malhação) – poderá ser visto em Pega Pega, próxima novela das 19h – que estreia na Globo em junho.

No folhetim criado por Claudia Souto – uma combinação de comédia, romance e trama policia – Silva interpreta Dilson, jovem que sofre por não ter crescido com o irmão mais velho Tidinho (David Junior), que se perdeu da família quando criança, sendo criado por Sabine (Irene Ravache) na Europa – umas das figuras centrais da novela.

Em entrevista ao HuffPost Brasil durante a festa de lançamento da novela, que ocorreu nesta quinta-feira (18), no Rio, o ator recordou a repercussão de seu dia de Beyoncé: “Eu fiquei emocionado ao ver que a apresentação virou notícia no HuffPost, no BuzzFeed, no Hugo Gloss e em outros sites de cultura pop. Isso significa que o número tinha relevância”, disse.

No domingo da performance, milhares de espectadores usaram as redes sociais para elogiar o ator, que fez interpretação longe do caricatural de um dos maiores ícones do empoderamento negro da atualidade.

Silva ganhou ainda mais admiração do público ao publicar em seu Instagram uma divertida mensagem de incentivo ao seus seguidores horas depois de o programa ir ao ar: “Seja você mesmo. A não ser que você possa ser Beyoncé. Nesse caso, seja Beyoncé”, escreveu.

O desembaraço em sua versão de Beyoncé chega a ser algo ousado na TV brasileira, que ainda não conseguiu se desvencilhar por completo da reprodução de estereótipos racistas em relação aos negros e reducionistas quando personagens ligados à comunidade LGBT estão em foco.

Ciente da representatividade de seu trabalho para minorias políticas que enfrentam diferentes tipos de preconceito no Brasil, o ator defende que as pessoas levantem a bandeira do respeito à individualidade. “Na questão LGBTQ, por exemplo, acredito que vamos avançar até a sigla se tornar LGBTQ….XYZ, porque são muitas as individualidades”, reflete.

Ele idealiza uma sociedade em que o nível de respeito às individualidades seja elevado e usa o seu trabalho para que esse cenário seja real em breve.

“Minha maior responsabilidade e desejo como artista é dar voz aqueles que não têm voz. Dar voz à questão negra, dar voz à questão da mulher, dar voz à questão LGBT, dar voz à questão nordestina. Porque são questões que permeiam a vida artística e as nossas como um todo. As pessoas estão morrendo por causa disso [pertencerem a minorias políticas], então eu acredito que a gente tem que falar mesmo.”

No Domingão do Faustão, o ator afirma que usou sua homenagem à Beyoncé para levantar uma bandeira que para ele é muita cara: a da “mulher preta”.

favorita.

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“Eu sou filho de mulher preta e eu sei o quando é necessário ter luta para ser [essa mulher]. Eu não posso falar no lugar dela, óbvio, mas eu sei, observando a vida inteira o quanto é preciso lutar”, diz.

Quando a conversa envereda mais para o drama da situação do negro no Brasil, o ator conta: “Eu lido com isso como todo brasileiro negro lida: estando muito atento. É preciso estar atento e forte, como diz a canção, mesmo”.

coletiva de imprensa de #pegapega @julianoezuel @hugoboss obrigado!!

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Além de atenção e força, Silva usa o otimismo como arma para enfrentar o racismo onipresente na sociedade brasileira. “A gente ainda está se fodendo, mas chegamos nessa geração tão triunfantemente, Triumphantly como ele diz Bob Marley [na letra da canção Redemption Song], que eu acho que devemos seguir lutando”, afirma.

E comemora:

“Olha como eu estou aqui agora, na cidade cenográfica da Globo, vestindo um terno Hugo Boss, sacou? Vindo lá da favela de Diadema, em São Paulo, com a minha mãe preta e podendo mostrar aqui a minha cara, porque eu sou um indivíduo, porque eu tenho talento suficiente, porque eu tenho o que dizer, porque eu tenho um trabalho para fazer e tenho pessoas para tocar.”

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