Idosos deprimidos têm mais chance de se tornarem acumuladores

O que fazer quando nossos entes queridos mais velhos começam a entulhar a casa com todo tipo de tralha, sem conseguir descartar nada? E quando isso interfere na rotina e na qualidade de vida como, por exemplo, obstruindo o caminho para o banheiro ou a cozinha? Há risco de queda, a limpeza vai ficando comprometida e até incêndios podem ocorrer com maior facilidade. Estudos apontam que a desordem de comportamento conhecida como acumulação é relativamente comum entre os idosos, mas agrava-se com a idade. Pesquisa realizada por cientistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, revelou que 15% dos adultos mais velhos que sofrem de depressão acabam se tornando também acumuladores – esse percentual fica entre 2% e 5% entre os que não sofrem da doença. Depressão e acumulação impactam a mesma área do cérebro, responsável pela capacidade de organização e tomada de decisões.

 Por  Mariza Tavares, do BEM ESTAR

Um dos pilares do envelhecimento ativo é o chamado capital social, ou seja, a convivência com amigos, família e a sociedade de um modo geral. No entanto, muitos idosos vivem um declínio dramático dessa interação, sentindo-se excluídos do mundo. Neste blog, uma coluna publicada em abril já mostrava o risco do surgimento de depressão como consequência do isolamento. A acumulação pode ser uma forma de atenuar esta sensação e doenças neurodegenerativas acentuam o quadro. Portadores de demência podem se transformar em acumuladores à medida que crescem os temores de que suas memórias queridas se perderão sem objetos que evidenciem o passado. Indivíduos com Alzheimer tendem a acumular mesmo objetos quebrados ou sujos. São ações relacionadas a uma necessidade de acolhimento e segurança, diante da ansiedade e do medo experimentados pelos doentes à medida que as funções cerebrais declinam.

 

Não adianta achar que basta fazer uma “limpa” na casa e o problema estará resolvido. Na verdade, a iniciativa só vai provocar estresse e hostilidade. Na faculdade de serviço social da Universidade de Boston, uma pesquisa acompanhou 26 pessoas, entre 60 e 90 anos, todas acumuladoras. Os assistentes sociais envolvidos no trabalho investiram na relação de confiança com os pacientes e isso se mostrou eficaz para torná-los receptivos a uma mudança de comportamento, indicando a importância de o idoso se sentir no controle do processo. Por isso, em primeiro lugar, seja paciente e gentil. Não altere seu tom de voz, lembre-se que a pessoa não faz aquilo de propósito. Se o idoso ainda estiver num estágio no qual consegue acompanhar uma argumentação lógica, explique que é para sua própria segurança e ele poderá ser convencido a abrir mão do que vem “colecionando” ao longo dos anos. Uma alternativa para distrai-lo e afastá-lo dessa compulsão é engajá-lo em atividades ou passar mais tempo ao seu lado. Uma técnica sugerida por especialistas é a “caixa das memórias”: um lugar para guardar coisas especiais pode ajudar o paciente a sentir mais seguro com seus itens preciosos. Reorganizar a caixa será uma atividade recorrente, evitando que acabe se tornando em novo foco de acumulação. Por último, mas igualmente importante: converse com o médico sobre medicamentos para amenizar a ansiedade e a depressão.

Foto: Wikimedia Commons

+ sobre o tema

Ultrassom israelense que destroi tumores chega a SP

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo...

Tradição de parteiras está no centro de incentivo ao parto normal na Grã-Bretanha

Até 2011,o índice de cesarianas realizadas no Reino Unido...

Tecnoporto: chip para não engravidar

Por: Hugo Brito A fundação mantida pelo criador da Microsoft, Bill...

A saúde privada oferece assistência de qualidade?

Nota do Brasil Debate A saúde, direito social garantido pelo artigo...

para lembrar

Ultrassom israelense que destroi tumores chega a SP

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo...

Deises e Leilanes: abandonadas sem vale-táxi e SAMU-cegonha, por Fátima Oliveira

É cruel a assistência ao parto em muitos recantos...

Médico que lidera luta contra o ebola em Serra Leoa contrai o vírus

O médico que liderava a luta contra o ebola...

Site reúne depoimentos de mulheres que fizeram abortos

Mulheres de várias idades e configurações familiares já enviaram...
spot_imgspot_img

Seminário promove debate sobre questões estruturais da população de rua em São Paulo, como moradia, trabalho e saúde

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns...

A indiferença e a picada do mosquito

Não é preciso ser especialista em saúde para saber que condições sanitárias inadequadas aumentam riscos de proliferação de doenças. A lista de enfermidades que se propagam...

Mulheres pretas e pardas são as mais afetadas pela dengue no Brasil

Mulheres pretas e pardas são o grupo populacional com maior registro de casos prováveis de dengue em 2024 no Brasil. Os dados são do painel de...
-+=