III CNPM: Precisamos redobrar a atenção em defesa dos direitos das mulheres

Nesta segunda-feira, dia 12, em Brasília, será aberta a III Conferência Nacional de Políticas para Mulheres (CNPM), após a realização de dezenas de conferências municipais e estaduais, em todo o país, desde julho deste ano. Para a Articulação de Mulheres Brasileiras, uma conferência neste momento exige uma atenção redobrada por parte de todas as defensoras dos direitos das mulheres. Isso porque, como acontece a cada início de governo, as políticas públicas para mulheres ficam sob risco.

A avaliação é de Silvia Camurça, socióloga, educadora do SOS Corpo e integrante da coordenação nacional da AMB. Para ela, o movimento de mulheres tem lidado com esta situação há muitos governos. “Não é uma novidade e chega a ser uma característica de uma racionalidade tecnocrática federal, na qual prevalece a visão que é necessário cortar orçamento das áreas consideradas como não estratégicas, principalmente políticas para mulheres e políticas para igualdade racial.

Essa racionalidade costuma se sustentar apontando entre as necessidades mais estratégicas as construções de estradas e outras obras, por exemplo, em detrimento da infraestrutura social, como as creches.

Um segundo fator que pesa no primeiro período dos governos federais, nos últimos 20 anos, é uma perspectiva de política pública na qual prevalece a ideia que o Estado brasileiro deve cuidar das famílias. Para a socióloga feminista, as famílias devem ser consideradas sujeitos de direitos, assim como as mulheres, ou negras e negros. Cuidar das famílias sem reconhecer que nas famílias existem desigualdades para as mulheres, sobretudo para as mulheres negras, é deixar encoberta uma série de problemas que afetam metade da população.

Além disso, é preciso levar em conta que muitas mulheres são chefes de família no Brasil e que mesmo a implementação de políticas para famílias da classe trabalhadora, em suas distintas configurações, é uma conquista recente, a exemplo do direito à aposentadoria rural. Então, o momento exige de todas nós, ressalta Silvia, uma atenção a mais nas proposições da III Conferência, para assegurar a perspectiva feminista do direito das mulheres a ter direitos.

Na CNPM, as integrantes da Articulação pretendem reafirmar a “Grita Geral” em defesa dos Ministérios da Mulher (SPM) e da Igualdade Racial (Seppir), incidindo para não perder nada do que foi conquistado nos últimos anos.

Lançamento

A AMB lançará e distribuirá, durante a III CNPM, a publicação Articulando as Luta Feminista nas Políticas Públicas, cujo conteúdo contextualiza a situação das mulheres e das políticas públicas neste âmbito, além de apresentar um conjunto de propostas prioritárias para cada eixo do Plano Nacional (PNPM). Com esse material e outros documentos, a publicação pretende ampliar a divulgação dos sentidos do feminismo característico da AMB.

Íntegra da publicação: Articulando a luta feminista nas políticas públicas

Fonte: Articulação de Mulheres Brasileiras

+ sobre o tema

Exploração sexual de crianças e adolescentes só tem 20% dos casos denunciados

Denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes representam...

Terceirização tem ‘cara’: é preta e feminina

O trabalho precário afeta de modo desproporcional a população...

Internet impulsionou surgimento de um novo feminismo

Redes sociais ajudaram a divulgar campanhas que chegaram às...

Arquitetura dos direitos reprodutivos e ameaças ao aborto legal e seguro

Iniciamos esta reflexão homenageando a menina de 10 anos,...

para lembrar

Por que parar na questão de gênero? Vamos trocar a Constituição pela bíblia

Por conta da pressão da Frente Parlamentar Evangélica junto...

Programa Justiça Sem Muros do ITTC lança campanha sobre visibilidade ao encarceramento feminino

Inspirado na arte de Laura Guimarães, o programa Justiça Sem...

Homens que cuidam

João está deprimido. Fez uma consulta com um psiquiatra...

Estudantes do Rio combatem machismo e racismo com projeto transformador

Com o título Solta esse Black, alunas da Escola Municipal...
spot_imgspot_img

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...

Escolhas desiguais e o papel dos modelos sociais

Modelos femininos em áreas dominadas por homens afetam as escolhas das mulheres? Um estudo realizado em uma universidade americana procurou fornecer suporte empírico para...
-+=