Imigrante congolês agora trabalha com direitos humanos

Fonte: Folha de São Paulo –

Dez anos após chegar à Itália, Denis afirma que ainda sofre com preconceito; “muita gente se acha no direito de agredir’

Africano critica política migratória do governo Berlusconi: “Estão dizendo a pessoas como eu que elas não podem ter esperança”

 

Denis fala seu francês nativo, italiano fluente, um pouco de espanhol e algo de inglês. Pergunta, sem graça, se a palavra certa é “sonho”. Está tentando responder o que o fez sair da República Democrática do Congo e se arriscar em uma terra que não parece querê-lo ali.

Diz que foi embora da África porque queria trabalhar com direitos humanos na Europa, mas mais correto parece ser afirmar que ele trabalha com direitos humanos porque foi embora.
“Estão dizendo para essas pessoas, que são como eu, que elas não podem ter esperança, que não podem ser italianas.”

O rapaz magro e que parece ter muito menos do que seus 31 anos chegou na Itália há dez e quer esquecer a viagem. “Te juro. Apaguei.” Indagado sobre a porta de entrada no velho continente, responde de pronto: “Lampedusa”. Depois recua e diz que é brincadeira.

Do preconceito encontrado depois, no entanto, ele fala fácil. A pior fase, diz, foi quando começou a faculdade de direito, que está terminando agora. “Foi muito difícil. Ainda é, embora menos. E eu leio muito, aprendi a língua. Mesmo assim, muita gente se acha no direito de agredir, de tratar mal.”

Denis era o único negro entre os cerca de 6.000 habitantes de Lampedusa (há quatro famílias norte-africanas e árabes vivendo na ilha há anos). Mas estava de passagem, pois hoje vive em Milão, onde estagia para um advogado que trabalha com direitos humanos, quase sempre em casos ligados à imigração.
Não são muitos, afirma, os que querem representar os clandestinos nos tribunais.

Diz ser de esquerda e fala com interesse de política. “A Itália tem medo dos imigrantes. E os políticos usam isso para ganhar votos”, argumenta. “O pior é que a esquerda também não faz nada, finge que não vê o problema e não constitui alternativa. Temos um racismo institucionalizado.”

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