Fonte: Portal.RPC-
Nada parece verdadeiro em Imitação da Vida. Sarah Jane é negra, embora seja branca; Lora é uma atriz, embora só apareça em fotos publicitárias; Steve é um fotógrafo, embora renuncie com desenvoltura à arte em troca de um bom emprego; o sr. Loomis é um agente, mas mais parece um cáften, oferecendo suas atrizes a produtores de teatro e cinema.
O que é verdadeiro no filme com que Douglas Sirk encerrou a carreira (em estúdios), então? Annie, talvez. Annie, a negra que é negra, a empregada dedicada e servil.
Neste filme que chega aos 50 anos em plena juventude, narra-se em princípio a história de duas mães. A branca Lora e a negra Annie cuidam de suas filhas, Susie e Sarah Jane, como princesinhas. Na medida do possível. Existe uma brancura ostensiva em Lora. Ela se comporta como se não houvesse discriminação racial. Impossível saber até que ponto isso é hipocrisia.
Em dado momento, ela pedirá a Sarah Jane que execute tarefas de criada, embora saiba que ela não é criada. Ela o faz com um tipo de inocência característico dos brancos que, por tratarem os negros em pé de igualdade, como que lhes exigem uma retribuição.
No mais, ela tenta cobrir a filha de mimos. Quer dar a ela tudo o que não teve. Ora, ocorre que sua carreira de atriz de repente deslancha. Então, Susie irá para os melhores colégios, mas não terá mais a companhia da mãe. Para desenvolver sua carreira, ela tem de renunciar ao amor de Steve.
É bem verdade que Steve, num primeiro momento namorado todo cheio de dedicação, logo faz a exigência clássica do machismo mais machista: que a mulher abandone a carreira e se deixe cuidar por ele. Importa o seguinte: quanto mais Lora progride em sua carreira, mais a cor branca se mostra predominante nas paredes e na decoração de sua casa.
Ao lado disso, existe Annie e sua obsessão pela verdade. Obsessão que torna sua presença insuportável para Sarah Jane. A filha sabe em que mundo vive e da necessidade de escapar disso. Ainda não existem os direitos civis.
A única maneira é se passar por branca, o que é possível para ela, desde que negue sua origem e seja um travesti do branco a que ela tanto aspira para não ser desprezada.
Serviço: Imitação da Vida, de Douglas Sirk. Classicline, R$ 34,80. Classificação indicativa: 12 anos
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