O Laçador deveria ser negro

Fonte: Gazeta do Sul-

RIO PARDO: MÁRIO MAESTRI DEFENDEU A POSIÇÃO NO PRÉ-LANÇAMENTO DO LIVRO UMA LUZ PARA A HISTÓRIA DO RIO GRANDE

Seminário reuniu autoridades e idealizadores

da publicação histórica sobre o bicentenário da Tranqueira Invicta

“O Laçador deveria ser negro.” Foi a afirmação feita pelo professor-doutor Mário José Maestri Filho, ao falar da importância da mão de obra escrava para o desenvolvimento da economia do Rio Grande do Sul. Maestri esteve nessa sexta-feira à tarde em Rio Pardo e à noite em Santa Cruz do Sul, nos eventos que marcaram o pré-lançamento do livro Uma luz para a história do Rio Grande – Rio Pardo 200 anos – Cultura, Arte e Memória. O historiador e pesquisador apresentou dados inéditos de um estudo feito por Setembrino Dalbosco, da Universidade de Passo Fundo (UPF), sobre as fazendas pastoris de Rio Pardo.

Foram coletados dados específicos do período de 1780 a 1888, em 47 fazendas. A realidade retratada por Maestri é de uma economia em que as terras valiam muito pouco, diferentemente do que ocorria com o gado e os escravos. “Uma cabeça de gado equivalia a cinco hectares de terra e com o valor de um cativo campeiro se comprava até 500 hectares”, comparou. “Mais do que senhores de terras, os proprietários das fazendas eram senhores de escravos”, salientou Maestri.

Nesse cenário, Rio Pardo foi o centro da formação da economia pastoril no Rio Grande do Sul, processo que se estabeleceu por meio do sistemático roubo do gado nas estâncias missioneiras.Tratava-se de uma atividade predatória, com o objetivo de extrair apenas o couro, que valia mais naquela época. Assim, carneadas, manadas de quinhentas ou mil cabeças de gado eram abandonadas no campo para servir de alimento aos lobos. O fazendeiro, que havia ganho enormes quantidades de terra da coroa portuguesa, agora acumulava capital por meio do roubo do gado que se criava livre nas estâncias jesuíticas.

Essa prática muda com o advento das charqueadas, por volta de 1780. A carne passa a ter maior valor e surgem as propriedades de criação, onde a maioria do trabalho era realizada pela mão de obra cativa, fato confirmado por pesquisas recentes. “A economia pastoril no Rio Grande do Sul nasceu apoiada no trabalho escravo”, ressaltou.

Para o pesquisador, a importância dos escravos na produção pastoril tem sido sistematicamente ignorada pela literatura oficial. Não fosse isso, seria possível pensar que é o trabalhador cativo, o escravo afro-descendente, o verdadeiro símbolo do gaúcho dos pampas, retratado na figura do Laçador na entrada de Porto Alegre.

 

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