A inocência dos homens – Por alex castro

As mulheres são tão responsáveis quanto os homens pela perpetuação da cultura machista, mas com uma grande diferença: só os homens se beneficiam.

Nenhum homem é inocente dos crimes do machismo.

Mesmo que nunca tenha feito nada de errado, todo homem se beneficia da estrutura de dominação criada pelo machismo.

Cada vez que eu, um escritor, sou levado a sério por escrever algo que, se eu fosse escritora, teria caído em ouvidos surdos, estou me beneficiando do machismo estrutural da nossa sociedade, querendo ou não.

Tanto homens quanto mulheres introjetam o machismo, mas se apropriam dele de forma assimétrica: para os homens, algumas desvantagens e várias vantagens; para as mulheres, praticamente só desvantagem.

Uma das grandes diferenças entre homem e mulher está justamente na vasta gama de privilégios desfrutados pelos homens, muitas vezes sem nem se dar conta de que são privilégios.

Se você pergunta a um homem quando foi a última vez que sentiu medo de morrer, vai ouvir alguma história sobre uma aventura ou um quase crime acontecida meses ou anos antes; se pergunta para uma mulher, ela vai contar algo que aconteceu hoje de manhã ou ontem à noite. Para nós homens, andar pela vida sem medo de morrer ou de ser estuprado é uma coisa tão normal que nem nos damos conta. Mas, do ponto de vista de uma mulher, esse é justamente um dos maiores privilégios masculinos.

A pergunta é simples: você está no time dos que receberam mais do que a média e, portanto, pode abrir mão de algumas regalias em prol de quem não teve as mesmas oportunidades? Ou recebeu menos do que média e, portanto, ainda precisa de todas as vantagens que puder agarrar?

O que acha? Quem é você?

Será que nós, homens, podemos abrir mão de alguns dos privilégios, regalias e direitos que adquirimos ao longo de milênios de patriarcado ou será que vamos nos aferrar com unhas e dentes ao mundo de nossos avôs?

Não basta simplesmente não ser machista: como a sociedade se estrutura de forma machista, é necessário agir individual e estruturalmente para abrir mão destes privilégios.

Se a vida fosse um videogame, ser homem, branco hétero seria com certeza o nível de dificuldade mais baixo.

* * *

Esse texto faz parte do meu Feminismo para homens: um curso básico. Leia o texto completo aqui.

Fonte: Revista Fórum

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