Por toda Europa, seleções já incorporaram imigrantes e filhos de imigrantes a suas seleções
Oscar Valporto
Mário nasceu em Palermo, em 1990, na ilha da Sicília. Stephan nasceu em Savona, perto de Gênova, no litoral norte da Itália, dois anos depois. Os dois cresceram falando italiano, estudando nas escolas italianas de suas cidades, jogando futebol com outros italianos de sua idade. E fazendo gols, muitos gols. Mas Mário e Stephan nunca se encontraram nas seleções de base da Itália: até os 18 anos, o jovem siciliano não era considerado cidadão italiano apesar de ter nascido e crescido no país.
Filho de ganeses, Balotelli é íntimo das redes. El Shaarawy, de pai egípcio, começa no banco
Filho de ganeses, Mário Balotelli foi convidado a assumir a nacionalidade dos pais e jogar na seleção do país africano. Recusou. O mesmo fez Stephan El Shaarawy, filho de pai egípcio e mãe italiana, quando sondado para jogar na seleção do Egito. “Nós, filhos de pais estrangeiros, somos italianos como todos os outros e devíamos poder ser azzurrini desde crianças”, argumenta Balotelli, sempre veemente.
A lei que veta a nacionalidade italiana a filhos de estrangeiros nascidos no país até 18 anos está agora na nova mira da ministra italiana da integração, Cecile Kyange, nascida ela mesma no Congo, que tem usado o futebol como exemplo. O lateral Angelo Ogbonna, que disputou a Eurocopa 2012 mas ficou fora da lista pra Copa das Confederações, também nunca pôde ser convocado antes dos 18 porque era filho de nigerianos.
Foi apenas com o técnico Cesare Prandelli que a combinação multirracial chegou ao ataque da seleção italiana, com o sangue ganês de Super Mario e o egípcio do jovem Faraó provocando calafrios em parte dos torcedores da Itália, país com frequentes manifestações racistas. Mas a juventude dos atacantes foi uma das chaves de sucesso da seleção de Cesare Prandelli, que imprimiu uma filosofia mais ofensiva à Azzurra.
Mesmo decidido a deixar o Faraó no banco hoje contra o México, às 16h, no Maracanã, o técnico tem o crédito de ter classificado a Itália por antecipação para a Euro, levá-la até a final e manter a seleção líder invicta de seu grupo nas Eliminatórias. “Temos um estilo agora de controlar a bola e atacar, mas não deixamos de ter outras opções. Tenho a felicidade de ter um grupo muito bom de jogadores de ataque”, afirma o treinador.
Prandelli evita aprofundar polêmicas sobre as ofensas racistas, que têm Balotelli como alvo principal. “O racismo é lamentável”, afirma, lembrando que o futebol incentiva a mistura de raças.
Por toda Europa, seleções já incorporaram imigrantes e filhos de imigrantes a suas seleções. A Alemanha tem jogadores com pais turcos (Ozil), tunisianos (Khedira) e ganeses (Boateng). Negros já deixaram de ser novidade nas seleções de França, Inglaterra e Holanda. Mas o racismo na Itália não dá folga ao futebol.
As convocações de El Shaarawy são contestadas por grupos de direita. Balotelli já sofreu ofensas racistas que também atingiram seu companheiro de Milan Prince Boateng e jogadores negros de times disputando a Eurocopa. Só nos últimos meses, Milan, Roma e Juventus foram multados por manifestações racistas das torcidas.
Nem o apelo aos exemplos do futebol tem tornado a vida da ministra Celine mais fácil. Grupos herdeiros do fascismo estão em campanha contra a derrubada da lei que impediu Balotelli de defender a Itália antes dos 18 anos. Com a camisa da Azzurra, contudo, não há diferenças. “O importante é sempre convocar os melhores sem qualquer prevenção de qualquer tipo. São todos italianos”, frisa Cesare Prandelli.
Fonte: Correio