Quem mais impulsionou o mercado brasileiro de crédito nos últimos quatro anos foi o jovem de periferia. Ele buscou linhas de financiamento para a compra de carro ou moto e foi um usuário frequente de cartão de crédito.
Essa é a principal constatação de um estudo feito pela Serasa Experian a partir de uma amostra de 1,4 milhão as consultas de consumidores, identificados pelo Cadastro de Pessoa Física (CPF) para obter financiamento em 121 instituições financeiras espalhadas pelo País.
Entre 2008 e 2011, levando-se em conta dados do primeiro trimestre de cada ano, a participação do jovem de periferia no total da procura por crédito cresceu 3,3 pontos porcentuais. Quatro anos atrás, esse grupo respondia por 15% do total de consultas para se obter financiamento. No primeiro trimestre de 2011, essa participação atingiu 18,3%, aponta o estudo.
O grupo Periferia Jovem foi o que mais ampliou a procura por crédito no período analisado e respondeu pela maior parte das consultas recebidas pelas instituições financeiras em 2011, observa Luiz Rabi, gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian e responsável pelo estudo.
Esse grupo de consumidores liderou o ranking de consultas para obter financiamento para compra de veículos, que abrange automóveis e motocicletas, com participação de 25,9%, e ficou no topo do segmento de cartões de crédito, respondendo por 25,6% das consultas. No segmento de consórcios, que envolve carros, motos e máquinas agrícolas, o grupo Periferia Jovem ficou na vice-liderança do ranking de consultas, com 23,6%. Nesse segmento, o grupo Periferia Jovem perdeu participação apenas para o grupo de consumidores do Brasil Rural, que foi outro pilar do crescimento do crédito nesses quatro anos.
Em 2008, o grupo Brasil Rural respondia por 11,8% das consultas para obter crédito. No primeiro trimestre de 2011, deteve 14,9% das consultas, com alta de 3,1 pontos porcentuais.
Formalização. “O aumento da procura por crédito pela Periferia Jovem reflete o ingresso e a formalização dessa população no mercado de trabalho e a maior mobilidade social”, afirma Rabi. Ele ressalta também que os bancos fizeram nesse período um forte movimento para atender esse público. “As instituições financeiras passaram a enxergar um novo mercado consumidor de crédito.”
O grupo Periferia Jovem corresponde a quase 21% da população brasileira e inclui seis subgrupos, entre os quais estão jovens trabalhadores de baixa renda, trabalhadores com baixa qualificação, estudantes de periferia, jovens na informalidade, excluídos do sistema e famílias assistidas da periferia. O grupo Brasil Rural representa 16,05% da população do País e abrange sete subgrupos.
O critério Mosaic Brasil, usado nessa pesquisa para classificar a população, considera não apenas quesitos tradicionais, como renda e a posse de bens, mas leva em conta um conjunto de mais de 450 variáveis que englobam, por exemplo, a localização da residência, o nível educacional até a composição familiar.
Juliano Marcílio, presidente de Marketing Services da Serasa Experian, explica que o Mosaic Brasil, que é a metodologia usada para classificar a população pela companhia em pesquisas realizadas em mais de 20 países, foi adaptada para o Brasil. Com isso, foram identificados 39 segmentos da população brasileira com características semelhantes, que compõem nove grandes grupos. A Periferia Jovem e o Brasil Rural são dois um deles. A Periferia Jovem, por exemplo, diz Marcílio, inclui residentes da periferia, com até 35 ou 40 anos de idade, que pertencem às classes C, D e E.
Motos. Na análise do consultor independente da área de veículos, José Eduardo Favaretto, o aumento da procura por crédito pelos jovens de periferia está voltado para compra de motos, já que a fatia dos carros populares nas vendas totais está diminuindo.
Em contrapartida, as vendas de motocicletas novas e “populares”, com motor de até 150 centímetros cúbicos de cilindradas, representaram a maior parte dos volumes negociados. De janeiro a outubro de 2011, por exemplo, foram vendidas 1,557 milhão de motos populares que responderam por 88% do total de unidades comercializadas, informa a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).
“Essa motos são usadas pelo jovens das classes C, D e E que trabalham como motoboys ou para locomoção dessa população para ir ao trabalho, substituindo o ônibus”, explica o diretor executivo da Abraciclo, Moacyr Alberto Paes.
No caso do cartão de crédito, Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs)mostra que, entre 2009 e 2011, as maiores taxas de crescimento na posse, no uso habitual e na preferência pelo cartão de crédito foram registradas entre os consumidores da classe C e entre os jovens de 18 e 24 anos, no total dos usuários. Em 2009, 38% da população da classe CD tinham cartões. Hoje esse índice atinge 47%. “Esse é um mercado promissor”, afirma o diretor da Abecs, Luiz Almeida, acrescentando que 60% das transações das classes C e D, feitas por meio de cartão, são parceladas sem juros. “É claramente uma substituição do cheque pré-datado.”
Fonte: Estadão