Jovem é agredido e diz ser vítima de homofobia durante show sertanejo: ‘Medo de morrer’

Organização diz que seguranças agiram após o jovem exibir o órgão genital a pessoas que passavam por área comum da arena em Peruíbe (SP).

Do G1

O operador de caixa Nilvã Lucena, de 23 anos, afirma ter sido vítima de homofobia dentro de uma arena de shows em Peruíbe, no litoral de São Paulo, no último domingo (10). Ele diz ter sido agredido por seguranças, que o expulsaram do local sem motivo na noite da apresentação da dupla sertaneja Jorge e Mateus.

“Eu tinha saído do camarote e ido para a fila do banheiro. Estava mexendo no celular, quando um segurança veio e me deu uma ‘gravata’. Ele me enforcou e eu comecei a sufocar”, conta. Ele conta que, ao ser imobilizado, o vigia disse que o levaria para os fundos do palco para “conversar”.

Assustado, ele gritou por socorro. “Quando eu vi, tinha cinco seguranças e eu estava no meio. Eu gritei, até que algumas pessoas me reconheceram e pediram para que parassem de me bater. Eu achava que eles estavam me confundindo com alguém, não consegui entender”, relata.

Ao ser retirado à força da fila do banheiro, em uma área afastada, Nilvã relata que o chefe de segurança foi avisado de que ele estaria urinando fora das cabines reservadas. “Eu não estava fazendo nada. Eu estava na fila, de onde fui tirado. Não havia argumento”.

Ele disse que, no trajeto, recebeu chutes e socos. “Alguém falou para eles soltarem esse ‘rapaz’. Aí, um dos seguranças virou e disse: ‘Rapaz não, viado’. Fui vítima de homofobia, sim. Ao mesmo tempo em que tinha vergonha, pois todo mundo me olhava, eu tinha medo de apanhar e morrer”.

O operador de caixa disse que nunca tinha passado por algo semelhante antes. “Já passei por situações de homofobia, mas nada assim. Eu paguei R$ 150 pelo ingresso, por um show que eu não assisti. Eu fui expulso sem que deixassem me defender. Eles não quiseram me ouvir”, relata.

“A gente, que é gay, sabe: todo dia matam um. Eu estou revoltado e envergonhado. Eu não fiz nada para merecer aquilo”, justifica. Nilvã, que foi ao evento com cinco amigos, alguns da Grande São Paulo, foi retirado do local antes da apresentação da dupla sertaneja, por volta das 21h.

Morador de Praia Grande, também na Baixada Santista, ele afirma não ter registrado boletim de ocorrência em Peruíbe, pois não conhecia a cidade. “Eu fiquei sem saber o que fazer. Fui para o carro e esperei os meus amigos”, conta. Antes, ele gravou em vídeo um desabafo, que repercutiu na internet.

Nilvã decidiu processar a organização do evento. Antes disso, na segunda-feira (11), ele registrou a ocorrência na Delegacia Sede da cidade onde mora, e realizou exame de Corpo de Delito no Instituto Médico Legal (IML) do município. “A polícia disse que vai investigar o caso. Eu espero isso”.

Outro lado

Por meio de nota, a organização da Arena Peruíbe afirmou que as acusações de Nilvã não são procedentes. A equipe de segurança, ao ser consultada, disse que denúncias informaram que “havia um rapaz expondo seu órgão genital àqueles que transitavam pela área [sanitários], razão pela qual” foi abordado e ordenado para que parasse.

A continuidade do ato forçou, ainda segundo nota, os seguranças a retirá-lo. “Imprescindível destacar que esta organização repudia veementemente toda forma de discriminação e violência, razão pela qual, não obstante a conduta que motivou a expulsão do jovem, serão apurados eventuais excessos praticados”.

A organização também nega qualquer ato de homofobia. “As atrações do evento atraíram grande público da comunidade LGBT, razão pela qual se mostra infundada qualquer imputação de preconceito ou discriminação, de qualquer sorte, precisamente pelo fato de representarem grande parcela dos espectadores presentes”.

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