Juiz chamado Hitler condena Casas Bahia por racismo

Empregado que foi vítima de discriminação racial será indenizado em R$ 10 mil por danos morais; magistrado conta que é o primeiro caso do tipo em 16 anos de carreira

Um processo curioso foi registrado na Vara do Trabalho de Manhuaçu, em Minas Gerais. O juiz com o nome Hitler Eustásio Machado Oliveira condenou a varejista Casas Bahia por discriminação racial contra um funcionário. A empresa pagará R$ 10 mil de indenização por danos morais à vítima.

Ao iG, o magistrado contou que este é o primeiro caso de racismo que julgou em 16 anos de carreira. Sobre o nome que recebeu do pai, o juiz diz não haver qualquer relação ou menção honrosa ao ditador alemão, apesar de já ter tido dificuldade em obter o visto de entrada para os Estados Unidos.

“Já pensei muito em mudar de nome quando era mais jovem, mas acabei me acostumando e hoje até gosto. É um nome diferente e forte, as pessoas ficam te conhecendo”. O fato de ter este nome e julgar uma ação por discriminação racial foi mera coincidência, afirmou o juiz.

Sentença

Na ação, o trabalhador afirmou que era constantemente ignorado por sua superior, gerente da loja, que não o cumprimentava no trabalho devido à cor de sua pele. Testemunhas confirmaram que o relato do funcionário era verdadeiro.

Uma delas presenciou a gerente virar as costas para ele, fazendo questão de demonstrar desprezo. Também foi provado que ela não prestava o auxílio necessário ao empregado, ao contrário do que fazia com outros funcionários.

“Uma atitude censurável e incompatível com o ambiente de trabalho que se espera que seja proporcionado ao empregado”, considerou o juiz.

Segundo outra testemunha, a gerente teria dito ao empregado e a seu colega, ambos negros, que eles não serviam para o perfil da loja, apontando o indicador para o braço, em referência à cor da pele.

O autor da ação contou que era ameaçado de demissão por justa causa a cada pequeno erro que cometia. Por fim, ele foi dispensado pela gerente, sem justa causa, assim que assumiu o cargo superior de gerente.

Ele também era escalado para fazer a limpeza de mercadorias com mais frequencia do que outros vendedores.

De acordo com o juiz, a conduta da empregada “caracteriza abuso de direito e prática de discriminação racial, em flagrante desrespeito aos princípios da igualdade e dignidade humana”. Ele também repudiou a falta de providências da empresa quanto à prática racista.

O fato de a empresa ter mantido a empregada em seu quadro de funcionários foi considerado um agravante contra a ré no processo, segundo o magistrado.

Ele considerou, ainda, que o dano moral é incontestável. “É certo que o montante da indenização deve ser considerável, de forma a compensar os vexames e humilhações sofridos, reprimindo de fato a atitude da ofensora”, proferiu na sentença.

A indenização de R$ 10 mil, por outro lado, foi estabelecida de modo a não ser exorbitante e desproporcional ao dano causado, sob pena de enriquecer o ofendido sem causa, disse o juiz.

Segundo o magistrado, a Casas Bahia já perdeu dois recursos nas instâncias superiores, e já ingressou com um terceiro, embora a possibilidade de reverter a decisão seja mínima.

Fonte: iG

+ sobre o tema

MC Soffia é alvo de racismo nas redes

A rapper de 13 anos, conhecida por suas músicas...

Drogas são vendidas até na fila de teatro em área nobre de São Paulo

Traficantes continuavam a oferecer cocaína, ecstasy e LSD...

Você sabia que o Caribe só dá “flor ariana” na imaginação do autor de novela brasileiro?

As evidências mais explícitas da manutenção do projeto racista...

para lembrar

Cães policiais de Los Angeles mordem apenas negros e latinos

  Segundo relatório, brancos representam a minoria dos...

Nossa negritude de pele clara não será negociada

Não ser branco nem preto, em uma sociedade racializada...

Projeto SETA promove eventos no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU 

Entre os dias 16 e 18 de abril, o Projeto SETA,...

Orlando Silva: “luta contra o racismo não é da esquerda ou da direita, é da civilização”

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), afirmou em entrevista...
spot_imgspot_img

‘Piada’ de ministro do STJ prova como racismo está enraizado no Judiciário

Ontem, o ministro do STJ João Otávio de Noronha, em tom de "piada", proferiu uma fala preconceituosa sobre baianos durante uma sessão de julgamento. A suposta...

Identitarismo, feminismos negros e política global

Já faz algum tempo que o identitarismo não sabe o que é baixa temporada; sempre que cutucado, mostra fôlego para elevar o debate aos trending topics da política...

Gilberto Gil, o filho do tempo

Michel Nascimento, meu amigo-irmão que esteve em Salvador neste ano pela milésima vez, na véspera da minha viagem, me disse que uma das coisas...
-+=