Focado no protagonismo e nas vozes indígenas que habitam a região amazônica, será realizado pela primeira vez na América Latina o “Climate Story Lab Amazônia”, evento dedicado à construção de narrativas artísticas para pulverizar informações sobre a urgência de se discutir as mudanças climáticas globais. O evento é realizado pela organização Doc Society e correalizado por “Matapi”, programação dedicada a impulsionar o audiovisual da região Norte do Brasil, e o “Hackeo Cultural”, organização dedicada à construção de práticas narrativas em defesa da vida.
O “Climate Story Lab Amazônia” ocorrerá de 23 a 27 de novembro, em formato híbrido, online e semipresencial em Manaus (AM), no Casarão da Inovação Cassina, reunindo representantes de sete projetos artísticos que abordam as mudanças climáticas e defesa do território dos povos originários, comunidades ribeirinhas e quilombolas. Os projetos são: “Uyra – A Retomada da Floresta” (Brasil), “Rádio Savia” (Colômbia e México), “Quentura” (Brasil), “Teles Pires: o rio mais impactado por hidrelétricas na Amazônia” (Brasil), “Série jornalística – Sabedores e memórias da Amazônia em risco de crise climática e pandêmica” (Colômbia e Equador), “Imagine2030” (Brasil) e Autodemarcação e Fiscalização da TI Sawré Muybu (Brasil).
A ideia é criar pontes entre ações já existentes no território amazônico, como força política e de resistência cultural para descolonizar olhares e práticas. “A urgência do debate das mudanças climáticas traz consigo a urgência da comunicação com a sociedade como um todo. Dado os contextos políticos da América Latina e a crise de representatividade nos espaços de poder, queremos impulsionar projetos com potencial de impacto social a fim de gerar compromisso com ações que contribuam para mudanças nas nossas práticas de vida e consumo”, defende Rodrigo Antonio, realizador e pesquisador paraense, organizador e anfitrião do evento.
Projetos selecionados Os sete projetos selecionados para o Climate Story Lab Amazônia vão receber consultorias de diferentes agentes do mercado audiovisual e de comunicação, bem como seus representantes participarão de encontros com especialistas culturais atuantes no campo da
construção de campanhas e distribuição de impacto social. O objetivo é promover formação e potencializar os projetos – que abrangem curta e longa-metragem, um podcast e um projeto de microssérie documental para internet – em distintos campos artísticos e comunicacionais.
“A comunicação sobre as mudanças climáticas é fundamental, necessitamos que as melhores histórias cheguem a audiências mais relevantes. Partindo desta convicção, o Climate Story Lab Amazônia vai catalisar os projetos audiovisuais emergentes e urgentes que estão saindo da região conectando com quem está na vanguarda sobre o debate da crise climática”, afirma a produtora de impacto colombiana, Vanessa Cuervo, uma das coordenadoras do evento.
Programação
A programação terá mesas redondas, oficinas, mapeamento de líderes políticos, e vai reunir artistas, pesquisadores, representantes de instituições ambientais e de sustentabilidade, organizações não governamentais, com pontos de vista distintos e complementares que compreendem o período crítico e urgente que nos pede mudanças na estrutura e na micropolítica de nossas comunidades e sociedade civil como um todo.
Integram a programação lideranças políticas, ativistas, mobilizadores sociais e representantes de distintos campos artísticos e de defesa da Amazônia, como Paloma Costa, atual membra do conselho geral da ONU sobre Clima, que vai estar em diálogo com as jovens ativistas indígenas, Txai Suruí e Beka Munduruku para discutir sobre ações da juventude e a mobilização nas redes sociais. O cineasta, curador e formador de comunidades indígena na Venezuela e Colômbia, David Hernández Palmar, e o escritor Daniel Munduruku compartilharão suas visões de como as narrativas, nos distintos formatos e linguagens, podem contribuir para luta pela justiça climática, e compõe esse diálogo também a documentarista e jornalista Elaíze Farias, cofundadora da organização Amazônia Real.
Ainda como parte da programação, Luciana Gatti (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe), ao lado de Brenda Brito (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon), Márcio Astrini (Observatório do Clima), e Marcivana Sateré-Mawé (Coordenação de Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME), debaterão por meio de dados atualizados, vivência e luta das comunidades amazônicas, os aspectos de defesa e demarcação de terras na Amazônia. Os debates por meio dos painéis formativos do evento terão ainda nomes de relevância da luta pela terra e questões climáticas.
OS PROJETOS
Uyra – A Retomada da Floresta
Em um dos países que mais mata ambientalistas, indígenas e pessoas trans, Uyra é o corpo que o Brasil insiste em exterminar. Como transartista-indígena-educadora, sua existência e resistência fomentam uma revolução micropolítica lutando pela educação da juventude indígena e queer e pela preservação das causas ambientais da Floresta Amazônica.
País: Brasil
Diretora: Juliana Curi
Produtora: Martina Sönksen
Formato: longa-metragem de não-ficção
Rádio Savia7
A Rádio Savia é um podcast narrativo sobre histórias de cuidados e cura do corpo-território. Celebramos e honramos os conhecimentos ancestrais de cura e cuidados coletivos das mulheres defensoras de território na América Latina. Honrando a relação recíproca entre nossos corpos e a terra, criamos uma experiência sólida que visa tecer juntos a justiça ambiental e as práticas de cura enraizadas em diferentes contextos latino-americanos.
Países: Colômbia e México
Co-diretoras: Ana Maytik Avirama Pabon e Daniela Fontaine
Formato: podcast de não-ficção
Quentura
Muito quente! As piracemas não vêm na época certa e as pimenteiras acabam morrendo com tanta quentura. “É um tempo muito diferente, que nem os espíritos estão conseguindo entender”. De suas roças, casas e quintais, mulheres indígenas da Amazônia nos envolvem em seu vasto universo de conhecimentos ao mesmo tempo em que observam os impactos das mudanças climáticas nos seus modos de vida.
País: Brasil
Diretora: Mari Corrêa (Marilena Corrêa Rimaud)
Produtora: Fernanda Sindlinger
Formato: curta-metragem de não-ficção
Teles Pires: o rio mais impactado por hidrelétricas na Amazônia
Em 2011, o primeiro projeto de uma série de hidrelétricas previstas para o rio Teles Pires foi leiloado. Passando à sombra de projetos de Hidrelétricas maiores na Amazônia que mobilizaram grandes narrativas como Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, o Rio Teles Pires viu ao longo da década seguinte o desenvolvimento desta e de mais três grandes hidrelétricas, tornando-se assim o rio mais impactado por barragens na bacia Amazônica.
Esse modelo de produção de energia mostra-se cada vez mais insustentável, sobretudo na Amazônia. O rio Teles Pires, antes conhecido pelas suas cachoeiras e águas verdes, com lugares sagradas para povos indígenas, e exuberante fauna e flora, hoje vê seu percurso tornando-se uma região estéril, com queda na população de peixes e quelônios, e grandes extensões de florestas apodrecendo às suas margens sob os lagos das hidrelétricas.
Um rio sob o signo da morte.País: Brasil
Diretores: Juliana Rosa Pesqueira Pereira e Alan Gomes Freitas
Formato: série de não-ficção
Série jornalística – Sabedores e memórias da Amazônia em risco de crise climática e pandêmica
Vozes de sábios indígenas da Amazônia na Colômbia e no Equador, que com seus conhecimentos curam a floresta mãe ameaçada pela exploração de seus territórios e pela crise climática. Suas histórias são memórias vivas e suas palavras são um caminho para a proteção da diversidade.
A “Agenda Propia” de mídia independente tem como objetivo destacar as vozes dos mais velhos para tornar visíveis os riscos enfrentados por suas comunidades em micro histórias com narrativas transmídia. Países: Colômbia e Equador
Jornalista cineasta: Vanessa Teteye
Jornalista: Paola Jinneth Silva
Formato: transmeios de não-ficção
Imagine2030
IMAGINE 2030 adentra nas cinco regiões do Brasil para retratar pessoas comuns que já constroem um futuro radicalmente diferente, com suas lutas diárias. Enquanto criam ativamente caminhos alternativos, cada personagem lida com cotidianos complexos e uma sociedade que resiste às mudanças. Imagine 2030 conta uma história do futuro com imagens do presente.
País: Brasil
Diretores: David Ainan, Everlane Moraes e Vinícius Silva
Produtor de impacto: Fernanda Cabral de Melo Oliveira
Formato: longa-metragem híbrido
Autodemarcação e Fiscalização da TI Sawré Muybu
Diante da ausência do Estado, todos os anos o povo Munduruku, do Pará, realiza a autodemarcação e fiscalização da Terra Indígena Sawré Muybu, onde guerreiros, guerreiras, caciques, pajés e crianças, caminham pelo território para reavivar os limites, identificar e expulsar invasores e cuidar da floresta, do rio e da terra.
País: Brasil
Cineastas: Beka Saw Munduruku, Aldira Akai Munduruku, Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi
Formato: curta-metragem de não-ficção
SOBRE A DOC SOCIETY E O CLIMATE STORY LAB
A Doc Society é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2005, comprometida em viabilizar grandes documentários e conectá-los a públicos em todo o mundo, com sede em Londres e Nova York, em atuação com diversos cineastas e parceiros. O Climate Story Lab é uma realização da Doc Society motivada pela compreensão de que comunicar sobre as mudanças climáticas é urgente. O laboratório é um espaço de articulação, conexão e reflexão sobre formas e ferramentas das narrativas audiovisuais e artísticas em geral, tendo o público como um agente mobilizador fundamental das transformações sociais. O evento vem sendo realizado em distintos países com organizações locais que adaptam a metodologia às suas realidades.
CONFIRA
Conheça mais sobre os sete projetos selecionados para a primeira edição do CSL. Amazônia e para participar do evento, confira novidades em: https://amazonia.climatestorylabs.org/.
Informações e dúvidas: amazonia.climatestorylab@gmail.com