Em abril de 2016, Luana Barbosa dos Reis – uma mulher lésbica, negra, mãe e periférica – morreu após ser espancada por três policiais militares na frente do filho de 14 anos em Ribeirão Preto (SP).
Do Sapatomica
A repercussão deste caso de lesbocídio, vinculado ao fato de não existir informações específicas sobre violência contra lésbicas no Brasil, fez com que a estudante de Serviço Social pela UERJ, Milena Carneiro, decidisse criar um projeto para reunir histórias e dados desses crimes.
“Eu, enquanto lésbica não feminilizada, sofro agressões por ser lésbica desde que me entendo por gente. Ver o assassinato da Luana me instigou a refletir sobre onde estavam os outros casos”, afirmou a estudante ao Catraca Livre.
As lésbicas são vítimas de violências diárias, como estupro corretivo e feminicídio. Entre 2012 e 2014, estima-se que cerca de 9% das vítimas de estupro que procuraram o Disque 100 — serviço de denúncias e proteção contra violações de direitos humanos — eram lésbicas (Liga Brasileira de Lésbicas – LBL) No entanto, ainda hoje não há dados específicos sobre esses crimes.
“Essa busca [por outros casos] me fez perceber que os registros sobre as violências que as lésbicas sofrem são precários, raros e incompletos. As lésbicas são invisibilizadas em vida e em morte”, completa.
A pesquisa idealizada por Milena, que ainda está em andamento, foi divulgada em uma página no Facebook, intitulada Lesbocídio. Por meio de um questionário do Google, a iniciativa quer documentar esses relatos, que podem ser enviados pela vítima ou por terceiros. A vítima não precisa se identificar ou ser identificada.
Segundo a estudante, o projeto tem dois objetivos principais: criar um banco de dados nacional, ainda que não institucionalizado nas ferramentas estatais, mas que possa pressionar a criação de políticas de segurança, saúde, educação, principalmente para as lésbicas; e, em segundo lugar, resgatar a memória coletiva dessas lésbicas que tiveram suas vidas ceifadas pelo sistema.
Abaixo, Milena Carneiro fala mais sobre a pesquisa e reflete a respeito da violência contra lésbicas no país