A liberdade histórica e cênica

Sexta edição da mostra de artes cênicas começa nesta sexta (4), discutindo a liberdade e homenageando Zezé Motta

por Daniel Oliveira no O Tempo

Resistência. Destaque no cinema, TV, teatro e música, Zezé Motta é a grande homenageada desta edição da mostra Tiradentes em Cena/ O Tempo (Foto: Nana Moraes)

A história da cidade de Tiradentes é marcada pela Inconfidência Mineira e por seu papel como um dos primeiros gritos por liberdade no país. Pegando carona nesse histórico e nos 300 anos do município, a Mostra Tiradentes em Cena decidiu fazer da liberdade o tema central de sua sexta edição, que começa nesta sexta (4) e, até o dia 12, leva à cidade mais de 20 espetáculos teatrais, além de performances, rodas de conversa, oficinas, peças infantis, exposição e shows.

“É um tema muito amplo, que passa por várias vertentes. Mas nos espetáculos, ele passa pelos aspectos de criação e de escolha de colocar no palco algumas questões delicadas nesses tempos em que a gente vive, mas que precisam ser ditas”, explica Aline Garcia, idealizadora do evento.

E para personificar esse tema e o caráter histórico de sua escolha, a mostra realizou um sonho antigo ao eleger Zezé Motta como a grande homenageada desta edição. Ícone do cinema, das artes cênicas e da música, a atriz representa “um símbolo de resistência e vanguarda, uma mulher e artista negra ligada à causa da liberdade não só no teatro, mas em várias questões humanitárias”, argumenta Aline.

Como parte da homenagem, Zezé será o tema de uma exposição, com destaque para sua atuação extra-palco, como na ditadura e na luta feminista. Além disso, ela participa de uma roda de conversa sobre a representatividade da mulher negra nas artes cênicas e apresenta seu show “Divina Saudade” na Matriz de Santo Antônio, no domingo, dia 6, às 20h.

A atriz, porém, não será a única veterana da dramaturgia brasileira a passar pela cidade histórica durante a mostra. Um dos destaques da vasta programação de espetáculos, o ator Tonico Pereira comemora seus 50 anos como ator com “O Julgamento de Sócrates”, primeiro monólogo de sua carreira. A apresentação será no dia 9, às 19h, no Teatro do Século XVIII (Uaithai Restaurante Tiradentes).

Outro destaque já vem logo na abertura, na sexta-feira. Depois de anos tentando trazer a mineira Morena Nascimento – bailarina com passagem pelo grupo Primeiro Ato e pela companhia da mestra Pina Bausch – para os palcos da mostra, a Tiradentes em Cena abre sua sexta edição com um trabalho inédito da artista. “O pai da Morena trabalhou muitos anos em Tiradentes, e ela tem uma relação afetiva com a cidade, brinca que faz parte de seu inventário emotivo”, conta Aline.

Sem um trabalho novo desde que teve seu filho, anos atrás, Morena (que será a nova diretora do Ballet do Palácio das Artes) criou o solo “Pacha Harvey Mama Zulu” – uma “memória-impressão” de todo seu trabalho corporal ao longo dos anos – especialmente para a mostra. A apresentação será às 19h, no Centro Cultural Yves Alves.

Aline Garcia destaca ainda “O Batizado”, de José Eleutério e João Damasceno, filhos de Bárbara Heliodora e Alvarenga Peixoto, que o grupo Hozanan Conceição encena no Largo das Forras no sábado, às 11h; e a parceria do evento com o grupo local Teatro da Pedra, que apresenta “Lutar ou Calar? Eis a Revolução”, espetáculo desenvolvido com 25 jovens alunos da região, no dia 8, às 18h. O grupo perdeu recentemente a verba para dar continuidade às oficinas com os jovens, mas o Tiradentes em Cena decidiu apoiar o trabalho para que o Teatro da Pedra desenvolva um novo espetáculo durante este ano, que deve estrear na mostra do ano que vem. “Eles são uma referência aqui, tanto de transformação social quanto de trabalho no plano das artes cênicas”, defende Aline.

A idealizadora ressalta, por fim, uma mudança importante. Ao contrário dos anos anteriores, em que a programação era integralmente gratuita, os espetáculos apresentados em locais fechados nesta edição cobrarão o ingresso de R$ 10, com meia para estudantes, demais detentores legais do direito e para os moradores da cidade. “Resolvemos entrar na campanha de valorização do trabalho do artista. Já contribuímos para a democratização levando a programação a escolas e bairros e oferecendo oficinas gratuitas, mas sentimos que é importante combater essa dificuldade do brasileiro de valorizar arte”, propõe. A programação em espaços abertos continua gratuita.

Agenda

O quê. IV Mostra Tiradentes em Cena

Quando. De 4 a 12.5

Onde. Tiradentes, MG

Programação completa. tiradentesemcena.com.br

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