Luiza Trajano: Basta de violência contra a mulher

A empresária fala sobre a perda de uma funcionária assassinada pelo companheiro e conta como o Magazine Luiza criou uma linha de atendimento dentro da empresa para ajudar mulheres que sofrem violência em casa

Por Luiza Helena Trajano Do Revista Marie Claire

Os dados estatísticos da violência contra a mulher no Brasil assustam, causam inquietação. É impossível ficarmos indiferentes a uma realidade que aponta que, a cada 90 minutos, uma mulher é morta, vítima de violência. A cada dois segundos, uma outra é vítima de agressão física ou verbal, entre tantas outras agressões pelas quais a mulher passa, muitas vezes dentro de seu próprio ambiente familiar. Vale lembrar que, apenas 11% dos casos são registrados em boletins de ocorrência, nas delegacias da mulher.

Mas, de fato, o que nos faz acordar, para além das estatísticas, é quando algo acontece bem no nosso entorno. Sempre trabalhei fortemente com os mais de vinte mil colaboradores da minha empresa, o Magazine Luiza, temas como racismo, assédio moral e sexual, entre outros assuntos importantes. Porém, nunca tínhamos feito uma campanha expressiva sobre violência contra mulher.

Recentemente, sofremos a perda de uma gerente, vítima da violência doméstica, um grande talento que estava eu seu ápice profissional. Foi um choque para todos nós, até porque em momento nenhum ela demonstrou estar em uma situação difícil e nem pediu ajuda para a família nem para nós, na empresa.

Diante desse fato, realizamos uma mobilização interna no Magazine Luiza, com uma consistente campanha, em que foi criado um canal de confiança e apoio para as mulheres, pelo qual elas podem pedir socorro e compartilhar seus medos, e, imediatamente, já são direcionadas providências concretas para garantir sua segurança.

O resultado está sendo surpreendente. Precisamos tirar o manto de silêncio que cerca esses casos. Por todos os lugares por onde passo, palestras, eventos, convoco outras empresas e gestores a se sensibilizarem e a se engajarem nesta causa. É delicado, mas não é difícil, basta que estabeleçam uma comunicação confidencial e de segurança com as mulheres que, silenciosamente, possam estar sofrendo violência, antes que essas mesmas mulheres vivenciem uma tragédia.

Muito precisa ser feito neste setor. Você sabia que a maioria dos casos de violência doméstica acontece aos finais de semana, e, justamente, aos sábados e domingos as delegacias de defesa da mulher estão fechadas?

Esse é um exemplo de algo, que em princípio parece pequeno, mas, pelo qual temos que lutar para que seja mudado rapidamente, para ajudar a diminuir esse número absurdo de agressões. Muitas outras atitudes devem ser tomadas em curto prazo para termos uma significativa redução da violência contra a mulher. Mas, a mudança neste cenário depende de uma série de fortes políticas públicas que devem ser implantadas pensando em longo prazo, em um trabalho conjunto entre entidades de as forças da sociedade que atuam em prol da proteção à mulher.

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