Mãe denuncia ameaças de morte e racismo contra filha de 12 anos em escola: ‘Macaca’

Menina chegou a receber carta com xingamentos e ofensas. Situação aconteceu em Praia Grande (SP).

Por João Amaro, G1 

Uma menina de 12 anos foi vítima de ameaças de morte e ofensas racistas por parte de uma colega da escola em que estuda, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. O desabafo da mãe da jovem em uma rede social teve grande repercussão, principalmente por expor uma carta recebida pela filha, na qual ela é chamada de ‘macaca’. O caso segue sendo apurado pela Secretaria de Educação da cidade.

A situação começou uma semana antes das férias escolares, em junho, mas se repetiu há alguns dias. Adriele é aluna da Escola Municipal Joaquim Augusto Ferreira Mourão, no bairro Melvi. Ao G1, a mãe, a vendedora Adelaide Alves, de 31 anos, contou que as primeiras ofensas surgiram na saída da escola. Mães de colegas da filha a alertaram, na tentativa de protegê-la.

“Uma das mães me ligou no trabalho pedindo para eu buscar a Adriele, pois havia outra menina a xingando de negra, vagabunda e macaca, e dizendo que ia bater nela. Ela me orientou a fazer um boletim de ocorrência, e que depois dava detalhes”, explica. Depois que soube, ela fez o B.O. de injúria e difamação e o apresentou na escola. Foi aí que ela teve uma surpresa.

“A diretora disse que sabia o nome da autora das ofensas e que iria conversar com a mãe dela, que eu não devia me preocupar. Ela ainda disse que não queria me incomodar com isso, pois trabalho longe. Sequer preocupou-se em tirar cópia do B.O.”, conta. Porém, novas ameaças e a ida da agressora até a casa de Adelaide, para bater em sua filha, fizeram a vendedora descobrir toda a verdade.

“Procurei a mãe dela, que me disse que, na verdade, a diretora só a procurou quando uma terceira criança, que tomou as dores da minha filha, brigou com a garota”, explica. Triste, a vítima chegou a ficar uma semana sem ir à escola, e só se distraiu em seguida, quando entrou de férias. O pesadelo, no entanto, voltou com tudo logo após o reinício das aulas, em agosto.

“Minha filha recebeu a carta, que dizia que ela fedia, que parecia uma macaca, que queriam matá-la. Na escola, ela foi orientada a entregar para a diretora, e depois, para não me contar. Descobri por uma amiga minha, que já sabia, e me questionou. De novo, fui a última a saber”, conta. Indignada, decidiu publicar a situação nas redes sociais. Logo em seguida, foi chamada na escola.

“Antes de eu ir, na segunda-feira (20), eu já tinha feito outro boletim de ocorrência e tentado transferir minha filha. Quando cheguei na escola, a diretora, na frente de uma pedagoga e de outros funcionários, começou a me interrogar, questionando o porquê de eu ter feito aquilo [publicação], que a escola não errou em nenhum momento. Tentaram até perguntar para a minha filha se ela gostava da escola, na tentativa de induzí-la a dizer que sim”, conta.

Adelaide foi orientada pelos funcionários a processar os pais da criança, já que a culpa seria da aluna, e segue sem entender o motivo de esconderem dela as ameaças e agressões feitas à filha. “[A diretora] sempre dizia que sabia e que queria me poupar. Para que isso? E se minha filha apanhasse, ou morresse na escola, como seria? Isso foi uma negligência”, conta.

Adelaide ao lado da filha, vítima de ameaças e racismo em escola de Praia Grande, SP (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo a vendedora, agora, a preocupação se volta para a filha, que, assustada, ainda tem receio de ir à escola. “É constrangedor. Quero que ela estude em paz, quero transferí-la de escola. Tenho que ficar ligando para saber se ela está bem. Não temos obrigação de gostar de ninguém, mas precisamos respeitar. Já fui chamada de ‘macaca’ no trabalho, e sei como é. Mas a única coisa que quero é igualdade e respeito”.

Ao G1, por meio de nota, a Secretaria de Educação (Seduc) de Praia Grande ressaltou que repudia qualquer tipo de ato que afete a moral e a dignidade dos alunos, e que assim que a unidade escolar soube dos fatos, adotou providências, assim como a mãe recebeu o devido atendimento, e ações foram tomadas para assegurar a segurança física da menor.

Além disso, a pasta reitera que, no que diz respeito aos alunos envolvidos, eles já foram identificados e encaminhados ao conselho de escola para análise do caso e, se necessário, possíveis sanções disciplinares. A Seduc também ressalta que o tema ‘bullying’ é trabalhado nas escolas em projetos pedagógicos durante todo o ano, conforme previsto na Lei Municipal 1471/09.

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