Mãe encontra bilhete com ameaças à filha com síndrome de Down

Polícia investiga autor da ameaça encontrada na mochila da garota, com o recado: “negro na senzala/gay no armário/retardado na apae/ B17”

Do Revista Fórum

Foto: Reprodução/Revista Fórum

A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar a autoria de ofensas e ameaças a uma garota com síndrome de Down. A mãe da menina, a veterinária Daniela Pimentel Chaves, estava preparando a mochila da filha para ir à escola, quando encontrou o bilhete: “negro na senzala/gay no armário/retardado na apae/ B17”.

Daniela havia manifestado voto em Fernando Haddad (PT) nas redes sociais. “Eu tenho uma posição política bem definida, quem me conhece sabe. Então, acho que usaram ela para me atingir. No primeiro momento, amassei e botei no lixo, mas fiquei com aquilo entalado na garganta. Mostrei para o meu marido e fomos à polícia”, disse ao jornal Folha de S. Paulo.

O caso aconteceu em Passo Fundo no interior do Rio Grande do Sul. Nas redes sociais, Daniela escreveu que tem recebido solidariedade e apoios. “Você descobre que ainda pode ter esperanças, quando alguém que não te conhece, que mora do outro lado país se solidariza com tua dor e te pega no colo”, disse.
Segue mensagem recebida por Daniela:

Carta de uma mãe

Para aqueles que xingam, para aqueles que fazem piadas, para aqueles que ignoram. Mas, sobretudo, para aqueles que pensam que as crianças não veem, não ouvem, não sentem e esquecem.

Eu sou mãe. Vi minha filha chorar muitas vezes por suas piadas e xingamentos sobre os nordestinos. A maioria das vezes, de pessoas muito, muito, muito próximas. Nestes momentos, eu não sabia o que dizer a ela. Enquanto vocês riam, faziam pouco caso do povo nordestino, chamando-os de burros, ignorantes, mortos de fome e vendidos; ela chorava e eu não sabia como estancar esta dor. Minha filha é uma criança nordestina. Chorei junto a ela em quase todas as vezes, enquanto tentava me transformar em ninho. E quase nunca falei com vocês sobre isso. Era só brincadeira não é? Ou só raiva… ou só… era qualquer coisa, pra vocês, tão pequena, que passava logo. Mas pra ela, era uma dor imensa. E essa dor nunca passou.

Hoje, ao ler esta notícia, volto a sentir a mesma dor-de-mãe. Aquela dor de quem sabe que vocês esquecem rápido demais, mas nossos filhos continuam a sentir sua violência por longos anos.

Daniela, ao arrumar a mochila da escola de sua filha de 8 anos, portadora de Síndrome de Down, encontra um bilhete:“Negro na senzala/ Gay no armário/ Retardado na APAE/ B17”

Eu sou mãe. Hoje eu sinto a dor de Daniela. Hoje eu sinto a dor cortante da mãe negra, da mãe d@ homossexual, da mãe d@ trans. Hoje eu só quero ser abraço, ninho e oração. Para que sua dor passe logo e para que uma amnésia enorme invada a lembrança dessas crianças. Mesmo sabendo que amnésias enormes só existem dentro de vocês, que reproduzem piadas e vomitam xingamentos. Mesmo sabendo que o coração de uma criança é capaz de lembrar para sempre. Por isso eu sinto muito, muitíssimo, Daniela. E (quase) toda mãe sente junto. Quase. 
Algumas xingam outras crianças.  Outras fazem piadas.  E depois esquecem. Estamos juntas. Ninguém solta a mão de ninguém.

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